Inesperadamente, conheci fisicamente pela primeira vez o Presidente Sam Nujoma em Julho de 1965 no Centro de Libertação, sita no Bairro de Kamwala, em Lusaka, onde estavam sedeados os Movimentos de Libertação da África Austral. Na altura eu vinha de férias do Colégio Saint John, da Igreja Católica, no Mongu, na Barotselândia. O meu Objectivo principal, além de visitar o meu tio, Jacob Musheke Khamalatah, que foi o primeiro Representante do MPLA na Zâmbia, era de estabelecer o contacto com Jonas Malheiro Savimbi através do nacionalista angolano, Royal Webster Katihé Kangende.
Mais tarde, já na UNITA, o Presidente Sam Nujoma frequentava a Residência do Presidente Jonas Malheiro Savimbi, no Bairro de Mulungushi, em Lusaka. Os dois nacionalistas eram muito amigos e camaradas de armas, que tinham relações pessoais muito fortes e afincos. Aliás, como é sabido, os primeiros onze (11) Comandantes da UNITA foram treinados na China em nome da SWAPO.
Na altura, os Movimentos Nacionalistas Africanos estavam divididos entre os Pró- Soviético e Pró- Chinês. A SWAPO e a UNITA eram Pró-Chinês, com uma identidade política aproximada, assente na Revolução Chinesa, liderada pelo Mao Tsé-Tung. O MPLA era Pró-Soviético, adepto da Revolução de Outubro, do Partido Bolchevique, liderado pelo Vladimir Lenine.
Durante a luta anticolonial, uma unidade de elite da SWAPO, sob o Comando do Comandante Dimo operou na Base de Apoio da UNITA, em Lungué-bungo. Depois da independência da Namíbia Comandante Dimo passou a ser o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da República da Namíbia.
Dizendo que, quando a Frente do Cuando-Cubango estava em dificuldades de penetração pelo Corredor entre Neriquinha e Rivungo devida a intesificação das operações terrestres e aéreas (de helicópteros) das tropas sul-africanas, apoiadas pelos Bosquímanos (Koi ou San), Presidente Jonas Savimbi decidiu retirar a unidade do Comandante Francisco Kulunga para a Frente do Lungué-bungo no sentido de penetrar na Província do Cuando-Cubango através do corredor do rio Cuito, que oferecia melhores condições geográficas.
Para este efeito, Comandante Samuel Chiwale deslocou-se para Cuando-Cubango (passando pela Zâmbia) para realizar esta operação. Posto em Lusaka, Presidente Sam Nujoma aceitou a proposta do Dr. Jonas Savimbi de retirar as unidades da SWAPO do Cuando-Cubango para Lungué-bungo com fim de abrir a Rota do Corredor entre Cuchi e Menongue para criar as Bases da SWAPO ao longo do rio Kubango, a noroeste da Vila do Caiundo. Isso permitia alcançar facilmente a fronteira da Namíbia.
Posto em Lungué-bungo a unidade da SWAPO foi colocada na Base do Chilindo, na Zona de Volonguelo (na margem direita do rio Lungué-bungo) onde estava o Hospital Central da UNITA, sob a Direcção do Eduardo André Sakuanda, Secretário da Saúde e dos Assuntos Sociais da UNITA. Nesta altura eu estava na Base do Chilindo, vindo da nascente do rio Casai, onde acionei uma mina antipessoal do Exército Colonial Português, no dia 15 de Novembro de 1972. Convivemos juntos e alguns Oficiais da SWAPO, inclusive o Comandante Dimo, casaram com as mulheres da UNITA e tiveram filhos.
Após o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, em Portugal, mais tarde, eu fui destacado no Cuando-Cubango como Comandante Político-Militar, entidade máxima da Província, na qualidade de Membro do Bureau Político e do Comité Central do Partido. Uma das tarefas que Doutor Savimbi incumbiu-me foi de «apoiar» as unidades da SWAPO ao longo do rio Kubango, tomando todas as medidas de segurança para não ser alvos de investidas sul-africanas contra as suas bases ao longo do rio Cubango.
Eu visitei várias vezes as Bases da SWAPO, e Peter Nanyemba, dirigente da SWAPO, passava frequentemente em minha residência em Menongue. Separamo-nos em Janeiro de 1976 quando a Cidade do Huambo foi tomada pelas tropas cubanas. Ele (Peter Nanyemba) apareceu de repente em minha Casa, na Cidade de Menongue, para despedir-se comigo. Na nossa curta conversa, ele disse-me o seguinte:
“Vim para nos despedirmos por enquanto. Muito obrigado pela ajuda que merecemos da UNITA durante longos anos da nossa cooperação e de luta armada. Somos gratos ao internacionalista (Jonas Savimbi) que sempre apoiou afincadamente a Causa do nosso país e do nosso povo. Contudo, pelas circunstâncias de momento, da alteração brusca do processo da descolonização do vosso país, somos obrigados a nos separarmos e cada um de nós vai assumir o seu azimute com fim de continuar a luta de libertação. Desejo-vos muito sucesso, muita coragem e perseverança na vossa luta, que não será tão fácil. Nós também vamos trilhar o nosso caminho difícil, cheio de obstáculos. Mas ambos, devemos adaptar-se á nova realidade e ao novo contexto da guerra-fria entre o Bloco do Leste e as Potências Ocidentais.”
No fim da nossa curta conversa, nos abraçamos efusivamente, como camaradas de luta. Foi a última vez que me avistei com Peter Nanyemba, que era um grande nacionalista, pan-africanista e diplomata fino, do estilo inglês. Foi deste modo em que a SWAPO e a UNITA ficaram em campos distintos e opostos, em plena guerra fria.
Nesta referência, gostaria de afirmar que quando olhamos ao Continente Africano notaremos nitidamente a existência de muitas mazelas, que ofuscam a imagem do Continente e colocam os povos africanos em condições sociais precárias, não obstante a existência de recursos naturais abundantes. Os líderes nacionalistas, que libertaram a África da colonização europeia, nem todos foram capazes de realizar os SONHOS dos seus povos.
Havia muita expectativa durante a luta anticolonial. Pois, o povo almeja acabar totalmente com a opressão e com a exploração. Infelizmente, não é isso que aconteceu. A África mergulhou-se na opressão, na fome e na pobreza extrema. Os libertadores transformaram-se em novos opressores, novos exploradores e novos colonizadores. Ali estará as grandes virtudes do Sam Nujoma, que conseguiu de unir e aproximar todas as etnias e todos os estratos sociais do seu país – na igualdade – sem a discriminação política, partidária, étnica, cultural, linguística, racial ou geográfica. Em contraste, olha para Angola de hoje de após a independência?
A Namíbia, com poucos recursos naturais ergueu uma sociedade aberta, solidária e inclusiva em que cada cidadão namibiano sente-se em sua casa e realizado, como dono da sua Pátria. A Função Pública está aberta à todos, e está ao Serviço de todos os cidadãos namibianos, em pé de igualdade, sem quaisquer discriminação étnica, política e partidária. O Sector Social é uma «prioridade absoluta» do Estado Namibiano. Nunca um estrangeiro ocupa um lugar de trabalho ou de investimento enquanto existir um namibiano em condições de ocupá-lo.
Por isso, os dirigentes namibianos não precisam de irem fora do país para se tratar. Os seus filhos estudam nas Escolas, nos Colégios e nas Universidades do País. Porque têm qualidades. Todos os dirigentes namibianos estão a morrer dentro do país, nos seus hospitais e clínicas. O próprio «pai-fundador» da Nação Namibiana acabou de despedir- se dentro da sua Pátria.
Neste âmbito, devemos tirar «grandes lições» dos libertadores do nosso Continente como do Nelson Mandela, do Kenneth David Kaunda e do Sam Nujoma, que libertaram a África e trabalharam de corpo e alma pelo bem-estar dos seus povos.
Nesses termos, aproveito esta oportunidade para prestar a minha singela
homenagem ao Grande Nacionalista, Pan-Africanista e Estadista, Sam Nujoma,
Fundador da Nação Namibiana. Expressar as minhas condolências e os meus mais
profundos pêsames à família enlutada; ao Povo Namibiano; ao Partido da SWAPO; e
à Nação Namibiana. Que a Sua Alma Descanse em Paz.
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