Eram sete. Não os magníficos do faroeste, mas os sete que prometiam unir forças pela alternância em Angola. Deputados do Grupo Parlamentar da UNITA, integrantes da Frente Patriótica Unida (FPU), decidiram suspender os seus mandatos, deixando para trás uma aliança que simbolizava a esperança de milhões de angolanos. Entre eles, figuras proeminentes como Abel Chivukuvuku, um dos arquitetos do PRA-JA Servir Angola, e outros nomes com peso político “galo”. A pergunta que ecoa nas redes sociais e nos bastidores da política angolana é: o que realmente aconteceu?
Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA e sonhador incansável, imaginou a
Frente Patriótica Unida como o motor da mudança. A ideia era simples e
poderosa: unir todas as forças opositoras para enfrentar o MPLA, partido que se
perpectua no poder há mais de meio século. Contudo, as forças que Adalberto não
pode controlar — as ambições pessoais e as estratégias sujas de um regime
habituado a dividir para conquistar — entraram em cena.
A suspensão dos mandatos pelos membros do PRA-JA Servir Angola é um golpe directo na FPU e, por tabela, no sonho de alternância política. Não é coincidência que esta decisão surja como um eco das estratégias de João Lourenço e Fernando Garcia Miala, traçadas na Cidade Alta. A velha tática de dividir para dominar continua eficaz, pois alimenta as vaidades e mina os compromissos colectivos.
Adalberto Costa Júnior, com sua visão de unidade, acreditava que poderia
colocar os interesses de Angola acima das ambições pessoais. Fez sua parte, deu
o exemplo. Mas é impossível conduzir à victória aqueles que preferem o conforto
das ambições individuais ao peso da responsabilidade histórica. A saída do
PRA-JA não é apenas uma traição política; é uma punhalada na confiança do povo
que luta por um futuro livre do autoritarismo.
Curiosamente, a Bíblia fala sobre os sete selos do Apocalipse, que
anunciaram a ruptura no céu. Cada selo quebrado revelava um sinal de conflito,
uma divisão iminente, até culminar no caos. Assim como os selos celestiais, os
sete deputados romperam a unidade terrestre, espalhando desconfiança e
enfraquecendo a luta por justiça. A ruptura que deveria trazer renovação trará,
na verdade, uma crise.
O MPLA, por sua vez, segue rindo dos bastidores. A estratégia é velha, mas
eficaz: um partido fragmentado, uma oposição dividida, um povo que continua
cativo. Enquanto isso, a ditadura se perpetua, prometendo mais 50 anos de
estagnação e injustiça.
O povo angolano, cansado de esperar por uma mudança, sabe que a união faz a
força. Mas, como diz o ditado, a ambição separa os homens. A Frente Patriótica
Unida era mais que um projecto político; era um símbolo de que, juntos, os
angolanos poderiam romper as correntes. Agora, com essa cisão, a luta se torna
ainda mais árdua.
No fim, o golpe não foi apenas contra Adalberto Costa Júnior. Foi contra
cada cidadão que acreditou que a alternância era possível. A ruptura dos “sete
selos” da política angolana trouxe o caos, mas também expôs quem realmente está
comprometido com a mudança. A ditadura venceu mais uma batalha, mas a guerra
pela liberdade continua. Resta saber se os que ficaram terão força para seguir
adiante e se os que saíram entenderão, um dia, que o verdadeiro inimigo nunca
esteve ao lado, mas no topo.
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