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O caso da empresa americana que apresentou queixa contra o BNA - Jorge Furtado

A empresa americana Globlue Technologies América LLC (USA), com sede 11611 Spring Cypress Rd. Building A Tomball. Texas, 77377 USA possui desde 2017 uma parceria comercial com as empresas de direito angolano Globlue Technologies Angola LDA e Multissoma LDA para a implementação do Centro de Monitorização e Controlo do Sistema Financeiro da República de Angola no Banco Nacional de Angola (BNA).

A implementação deste projecto no Banco Nacional de Angola enquadrava-se no âmbito do Programa do cumprimento por parte do país de um conjunto de recomendações emitidas pelas instituições financeiras internacionais e tinha como suporte legal a Lei nº 12/2015 - Lei de Bases das Instituições Financeiras; a Lei nº 16/2010 - Lei do BNA; o Aviso nº 22/2012 sobre o Sistema de Prevenção do BC e FT; o Avisos nº 3, 4, 5, 6, 7 e 8 de 2013 do BNA; o Aviso nº 01/2016 sobre a Política Cambial e Limites de Saída e Entrada de Moeda; a Lei nº 05/2005 - Lei do Sistema de Pagamentos de Angola; a Lei nº 34 - Lei de Combate do Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo; a Lei nº 05/97 - Regulamento da Lei Cambial; a Lei nº 03/2014 - Lei das Infrações do GAFI e FATF; a Lei nº 01/2004 - Lei das Sociedades Comerciais; a Lei nº 6/99 - Contra Crimes Económicos; Decreto Presidencial nº 24/17, de 17 de Fevereiro – Regimento do Conselho Nacional de Estabilidade Financeira (CNEF); o Instrutivo nº 04/17 sobre Operações de Mercadorias e as Recomendações do GAFI;

A coordenação e gestão do projecto era feita pelo Departamento de Inteligência e Controlo do Sistema Financeiro do Banco Nacional de Angola, que após as alterações dos artigos 4º, 8º, 10º e 22º do nº 2 do artigo 28º e do nº 4 do artigo 29º do Estatuto Orgânico da UIF e do Comité de Supervisão, aprovado pelo Decreto Presidencial nº 39/17, de 08 de Fevereiro e no cumprimento da Lei do BNA nº 16/10, de 15 de Julho, art.º 96º, nº 5, exercia as competências de receber, analisar e difundir a informação suspeita de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo e era integrado por quadros seniores dos serviços de Inteligência do Estado.

Assim, o Banco Nacional de Angola (BNA) celebrou com a empresa de direito angolano Globlue Technologies Angola (GTA) a 28 de Julho de 2017 o contrato para a Implementação do Centro de Monitorização e Controlo do Sistema Financeiro da República de Angola, com o objectivo de dotar a instituição com uma ferramenta tecnológica de inteligência financeira avançada contra o branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo e auxilio a supervisão Macro-prudencial e compliance dos fluxos financeiros ilícitos nas operações internas (operações nacionais) e operações externos (operações com estrangeiro), além da capacidade de gerir e distribuir informações de valor acrescentado para outras instituições do Estado, com destaque para a Procuradoria Geral da República, Administração Geral Tributária, Serviços de Investigação Criminal, os Serviços de Informação e Segurança do Estado (SINSE) e o Serviços de Inteligência Externa (SIE).

Na sequência das alterações ocorridas na composição do Conselho de Administração do Banco Nacional de Angola a 25 de Outubro e a 1 de Novembro de 2017 o projecto geral foi suspenso pelas novas autoridades com alegações de alteração das circunstâncias e com promessas de adequação do objecto e âmbito, o qual nunca ocorreu. Com as alterações orgânico-funcionais ocorridas no Banco Nacional de Angola o Departamento de Inteligência e Controlo do Sistema Financeiro foi extinto e todos os seus responsáveis e técnicos provenientes dos órgãos de Defesa e Segurança do Estado cessaram as respectivas comissões de serviço.
O contrato tem o valor global de 5.964.275.187,92 KZ, (cinco mil milhões, novecentos e sessenta e quatro milhões, duzentos e setenta e cinco mil, cento e oitenta e sete kwanzas e noventa e dois cêntimos) e a 24 de Agosto de 2017 foi pago, nos termos acordados, o montante de Kz 3.986.757.867,63 (três mil milhões, novecentos e oitenta e seis milhões, setecentos e cinquenta e sete mil, oitocentos e sessenta e sete kwanzas e sessenta e três cêntimos), correspondente a cerca de 66, 8% para a execução;

Nos termos do contrato e do cronograma aprovado entre as partes, com horizonte de execução em 24 meses, a empresa Globlue Tecnologies Angola e seus parceiros tecnológicos deu inicio em 2017 os trabalhos previstos na Fase I - Estudo e Implantação da Plataforma Informática, com o estudo técnico dos requisitos do sistema, o estudo da legislação e o levantamento técnico do espaço disponibilizado pelo BNA, que na altura carecia de obras, para a montagem de infra-estruturas e da futura sala de operações e em simultâneo, deu-se o inicio a Fase II – Instalação da Sala de Situações e Operações no BNA e Infraestrutura Tecnológica e Segurança Cibernética, com a seleção e aquisição de equipamentos (Hardwares) e a configuração da plataforma ARKHOS no ambiente de desenvolvimento, contendo o Portal de Inteligência artificial, Análise Avançada de Link, Fusão de Dados ARKHOS, Análise Preditiva, Mecanismo de Aquisição de Dados, Resolução de Identidade, Inteligência Cibernética Multicamadas, entre outros componentes;

Perante a situação de indefinição do projecto geral a Globlue Technologies Angola em conjunto com a Globlue Technologies LLC (USA) e a Multissoma, LDA (Angola) estabeleceram diversas interpelações junto ao Banco Nacional de Angola, no período entre 2017 a 2024 com vista a resolução desta situação mas sem sucesso, como ilustram os factos subsequentes:

1. No dia 10 de Dezembro de 2017, teve lugar na sede do Banco Nacional de Angola uma reunião com o objectivo de apresentar o ponto de situação do projecto ao então Governador Dr. José Massano. Naquela época, a execução do projeto era de cerca de 55%. Depois de ouvir o estado do projecto, o mesmo solicitou a mudança de âmbito do projecto, a fim de se ajustar à nova visão do Conselho de Administração. Além disso, instruiu o então Vice-Governador Dr. Rui Minguês, a definir e transmitir os requisitos de mudança de escopo à Globlue Technologies Angola de forma formal;

2. O então Vice-Governador Dr. Rui Minguês nunca chegou a formalizar os requisitos de mudança de escopo do projecto e não respondeu a nenhuma das cartas enviadas sobre o pedido de formalização da alteração do âmbito do projecto e as equipas de projecto, os fornecedores e parceiros tecnológicos ficaram a aguardar por uma orientação e nunca ocorreu;

No dia 10 de Julho de 2018, após várias pressões o Administrador Dr. Miguel Bartolomeu Miguel em representação do Conselho de Administração do BNA, solicitou novamente a cópia do relatório de situação do projeto, o qual já havia sido entregue anteriormente, porém, foi enviada novamente por e-mail bem como ao Engº. Marcelino Hiyelekwa, ex-Diretor de TI do BNA;

3. No dia 11 de Dezembro de 2018, pelas 9h00, teve lugar na sede do BNA uma nova reunião liderada pelo Dr. José Massano, o qual informou aos participantes a sua decisão de não implementar o projecto, tal como inicialmente previsto e orientou a continuação da reunião que seria liderada pelo Dr. Miguel Bartolomeu Miguel, Administrador do Conselho de Administração. Estiveram presentes na reunião o Dr. Mateus Queta
Filipe – Director Geral da Globlue Technologies Angola; Sr. Adrian Silva – Presidente & CEO da Globlue Technologies USA, o Dr. Mário Silva – Director Geral da Multisoma LDA, e Dr. Pedro Castro e Silva – então Administrador e ex Vice-Governador do Conselho de Administração do BNA;

4. A segunda reunião liderada pelo Administrador Dr. Miguel Bartolomeu Miguel teve lugar no dia 11 de Dezembro de 2018 às 15h00 e este notificou verbalmente todas as partes acima identificadas, sobre o pedido de encerramento do projecto por parte do BNA. Além disso, solicitou um dossier com todos os itens adquiridos durante a execução do projecto que fossem entregues ao Departamento de Informática do BNA, e este encaminhou para uma terceira reunião com o Engº. Marcelino Hiyelekwa ex-Director de Informática do BNA;

5. Em seguida realizou-se numa data posterior uma reunião liderada pela Sra. Isabel Gomes, ex Diretora Adjunta do Departamento de Informática, em representação do Engº. Marcelino Hiyelekwa, no dia 12 de Dezembro, pelas 15h00 e na ocasião, foi entregue oficialmente à relação completa de todos os itens adquiridos e o estado do desenvolvimento do projecto;

6. A 28 de Setembro de 2021, teve lugar uma reunião no BNA presidido pelo ex-Administrador do BNA Dr. Tavares Cristóvão, , acompanhado pelo Dr. Henrique Dambi – ex-Diretor do Gabinete Jurídico e a Dra. Teresa Fátima – ex Chefe de Divisão Juridica com o Dr. Mateus Queta Filipe – Director Geral da Globlue Technologies Angola, na qual foram abordados todos os aspectos do projecto, tendo o BNA se comprometido em encontrar uma solução sobre o assunto, mas nada ocorreu depois.

Entretanto, importa realçar que em 2019 o Banco Nacional de Angola remeteu o contrato assinado com a Globlue Technologies Angola a Procuradoria Geral da República para investigação de eventuais delitos criminais, tendo sido aberto na DNIAP/PGR o respectivo processo-crime registado sob o n.º 40/2019 e ouvido o Director da Globlue Tecnologies Angola na qualidade de declarante e após aturada investigação criminal ao longo de 4 anos o processo foi concluído e arquivado a 22 de Dezembro de 2022.

A Globlue Technologies Angola ao longo de mais de 7 anos em vários encontros e correspondências enviadas ao Banco Nacional de Angola sempre prestou todas as informações e apresentou soluções para a resolução deste diferendo, nomeadamente:

1)- A retoma, transferência e conclusão do projecto na UIF (Unidade de Informação Financeira), que carece de modernização tecnológica com os devidos acertos pela remobilização das equipas e pagamentos dos juros pelo prolongamento dos prazos do projecto;

2) – Em caso de desistência definitiva pela implementação do projecto, a empresa Globlue Technologies Angola apresentou em 2019 uma proposta de acordo de indeminização no montante de 1.977.517.320,29 KZ, cujo valor actualmente carece de ser actualizado ao câmbio oficial KZ/USD e acrescido de juros ou actualizado na base da inflação acumulada e acrescidos de juros pelos prejuízos causados;

O Banco Nacional de Angola no âmbito do contrato celebrado com a Globlue Technologies Angola nunca formalizou o pedido de alteração do objecto do contrato como estabelece a cláusula n.º 18.ª (Alteração do Contrato), nunca procedeu a rescisão do contrato como estabelece a cláusula 25.ª (Rescisão do Contrato), estando o projecto paralisado e o contrato em incumprimento reiterado, cujo prazo de execução tem sido automaticamente renovado nos termos da cláusula 22.ª do referido contrato (Atraso de Execução dos Serviços).

Face ao impasse e a falta de resposta do Banco Nacional de Angola, em 2023 a empresa Globlue Technologies Angola solicitou a intervenção da Procuradoria Geral da República, através do Gabinete do Contencioso do Estado, tento este órgão feito diligencias com vista a mediar a resolução do diferendo de forma extra-judicial, mas o Banco Nacional de Angola não se mostrou disponível para qualquer negociação e adoptou uma estratégia de litigância de má-fe, dai não ter sido encontrado até ao momento qualquer solução, como se atesta em oficio que junto segue em anexo.


No entanto, a 20 de Março de 2024 a Globlue Technologies Angola solicitou uma audiência a Sua Excelência o Governador do BNA Manuel Tiago Dias para abordar o assunto e encontrar uma solução extra judicial visando ultrapassar o impasse e em resposta o Departamento Jurídico foi orientado a agendar uma reunião para o dia 02 de Abril de 2024, tendo ocorrido a referida reunião e na qual em face as alternativas apresentadas tinham optado pela rescisão do contrato e comprometeram-se em formalizar em carta a decisão, nos termos da cláusula 25ª (Rescisão do Contrato), mas passados cerca de 6 meses ainda não o fizeram.

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