Enquanto à fome assola comunidades inteiras no município do Rivungo, província do Cuando Cubango, o governo provincial é acusado de desviar milhões de kwanzas destinado ao combate à pobreza. A nossa investigação revela um esquema de desvio de dinheiro público liderado pelo Administrador Municipal do Rivungo, João Wilson Tchimbinde, com envolvimento directo do governador provincial, José Martins.
De acordo com fontes confiáveis, entre outubro e novembro deste ano, cerca de trezentos e quarenta e cinco milhões e setecentos e vinte e um mil, cento e dezoito kwanzas (345.721.118) foram desviados da despesa pública para contas de empresas ligadas a familiares e amigos dos líderes locais.
Esses recursos, que deveriam ser usados para acções prioritárias de desenvolvimento e assistência humanitária, acabaram por ser canalizados para fins privados. De acordo com as nossas fontes, os valores do combate à fome e à pobreza também têm sido desviados, "não compram nada para agricultura e outros eixos mas os valores estão sempre a sair da conta do Estado, com um olhar cúmplice do Governador José Martins", realçam. EMPRESAS FACHADA NO CENTRO DO ESQUEMA Entre as empresas beneficiadas, destaca-se a DJEFER Construção, criada recentemente, em abril de 2024, que tem como sócios Geraldo António Figueiras Fernandes e Rita Gonga Fernandes. Apesar da sua curta existência, já recebeu mais de 33.700.000 kwanzas por nove acções contratadas no município do Rivungo, sem entregar nenhum serviço visível. Segundo a denúncia, os valores são divididos entre o Administrador Municipal e o governador José Martins. A mesma empresa também recebe pagamentos de outros municípios, como Dírico, Calai e Menongue, por orientação do governador.
OUTRAS EMPRESAS SUSPEITAS INCLUEM: Afripedro Comercial, LDA, que recebeu três milhões de kwanzas sem prestação de serviço. Marchal, LDA, empresa pertencente ao Aurélio Mesquita, 2.º secretário municipal do MPLA no Rivungo, que embolsou cinco milhões de kwanzas para fornecer equipamentos, portanto adquiridos no âmbito do programa Integrado de combate à fome e a pobreza, distribuídos meses antes, concretamente no mês de julho e volta a ser escrito nas despesas públicas somente para que o dinheiro seja desviado. Os desvios não param por aí. Algumas empresas que efectivamente prestaram serviços também não receberam os valores devidos em suas contas, denunciam que os montantes foram transferidos para contas particulares.
FOME E DESESPERO NO RIVUNGO A situação da fome no município do Rivungo alcançou níveis alarmantes. Casos como o do senhor Muvita Shupi, que morreu de fome enquanto buscava algas no rio Cuando, evidenciam a gravidade da crise. Apesar disso, a Administração Municipal tenta minimizar os factos. Em um relatório produzido por uma comissão liderada pelo director municipal da agricultura, Paulo Chilombo Viegas, a morte de Muvita foi atribuída a um suposto espancamento, versão que contradiz o relatório oficial do Comando Municipal da Polícia Nacional, o qual confirma à fome como causa do óbito. Além disso, há relatos de encerramento de escolas devido à falta de alimentação para alunos e professores, que estão a emigrar para os países vizinhos, Zâmbia e Namíbia.
A situação evidencia a desconexão entre as
prioridades da administração local e as necessidades urgentes da população.
Enquanto à população morre e grita de fome estão a decorrer gastos supérfluos
de recursos com a pintura de árvores. De acordo com os munícipes, quando o
Administrador Municipal se encontra no estado de embriaguez revela alguns
segredos de reuniões "secretas" que tem tido com o seu familiar e
governador, por exemplo, dizem que ele ameaça as pessoas e gaba-se de que o
governador não lhe faz nada por ser seu familiar. Também diz abertamente que é
vez deles mandarem, "não foi fácil chegarem ao poder tiveram de fazer
muita confusão", apontam.
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