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Quem matou David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes?

A 27 de Maio de 1977, Agostinho Neto, vencedor da disputa entre duas alas do MPLA, deu luz verde a uma chacina que terá ultrapassado mais de 80 mil vítimas. Dentre as vítimas, estão os músicos David Zé, Urbano de Castro e Artur Nunes, este havia dado entrada no Hospital do Prenda, e nunca mais foi visto.

O país assinala este sábado, mais um aniversários sobre o massacre do 27 de Maio de 1977. Neste fatídico dia, houve uma chancina que não sai da mente das pessoas. Alguns dos mentores destas mortes continuam vivos e a conviver connosco.

E uma pergunta que não se cala. Por que motivo mataram pessoas que pretendiam mudar o rumo desta Angola?

E começamos com David Gabriel José Ferreira “David Zé”. Filho de Gabriel José Ferreira, e de Carolina José Afonso, nasceu aos 26 de Agosto de 1944, na aldeia de Kifangondo. Fez o seu ensino primário na província de Kwanzas Norte, com onze 11 anos de idade, era, entretanto, parte integrante do grupo coral da Igreja Metodista, foi daí que nasceu o poeta que cantava a alegria e as esperanças do povo.

Foi um dos músicos míticos da revolução angolana. Com letras dotadas de um conteúdo de carácter muito politizado, defendia nas suas canções as ideias nacionalistas do MPLA de Agostinho Neto. Era torneiro mecânico e fundidor de profissão, preenchia os seus tempos livres, dando explicações de Matemática.

Artur Nunes era o mais novo de um trio de amigos, composto por António Urbano de Castro, David Gabriel José Ferreira e o próprio Artur de Jesus Nunes.

Por sua vez, Urbano de Castro, era serralheiro de profissão, trabalhou como operário na empresa União, tendo-se transformado num pequeno proprietário, no ramo da hotelaria, com os rendimentos provenientes da música. Fez parte do grupo coral da Igreja Tocoísta, em 1965, experiência que teve um papel importante na afirmação da sua carreira musical.

Foi preso pela PIDE em 1970. Depois de uma primeira tentativa falhada, conseguiu evadir-se para se juntar à guerrilha do MPLA. A canção “Angola liberté”, editada em single, é desta época, e teve um enorme efeito mobilizador nas bases das FAPLA. Após a independência, integrou, como um dos principais vocalistas, o conjunto musical Aliança FAPLA-POVO. Foi fuzilado depois do 27 de Maio.

Artur Nunes era o mais jovem dos dois (David Zé e Urbano de Castro). Quando foi morto, tinha apenas 27 anos. Começou a carreira musical pelo ano de 1970 quando fundou os Luanda Show.

Artur Nunes tinha o casamento marcado justamente neste mês de Maio no ano de 1977, só não aconteceu, porque o seu sobrinho e xará filho da sua irmã Santa havia falecido.

Artur Nunes foi visto pela última vez pelo os seus familiares num sábado, quando foi deixar um barril de fino para o komba do seu sobrinho. No dia 29 de Maio de 1977, foi levado quando o mesmo se encontrava na casa da sua sogra, e foi parar na clínica do Prenda (actual hospital do Prenda) com um dos braços partido, e daí em diante nunca mais foi visto. Helena sua noiva era vizinha de Urbano de Castro, foi quem avisou aos familiares de Artur Nunes.

Os corpos dessas vítimas permanecem em local incerto e, ainda, existe muita história por se contar.

Já em 1978, Agostinho Neto sabe que tem os dias contados: os médicos diagnosticam uma cirrose. O Presidente sacode à última hora as culpas que lhe são atribuídas e entrega alguns dos seus fiéis seguidores. Ludy e Onambwe, os chefes da polícia secreta, caem em desgraça. No mesmo ano, são nomeadas comissões de inquérito para averiguar os «excessos» cometidos na sequência do 27 de Maio, e juízes militares deslocam-se do Norte ao Sul de Angola e contam as vítimas. Um deles, José Nunes, investiga os massacres cometidos no Leste de Angola. Quando chega a Luena, província do Moxico, um prisioneiro do «centro de recuperação», que deveria ser fuzilado no dia seguinte, conta-lhe como decorreu a vida ali durante esse ano.

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