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O aprofundamento das relações com a Ucrânia não corresponde aos interesses nacionais de Angola - João Mário de Azevedo

No dia 15 de outubro, ocorreu uma conversa telefônica entre os Ministros das Relações Exteriores, Teté António e Andrii Sybiha. Poucos dias depois, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia anunciou que nos dias 24 e 25 de Outubro, Sybiha fará uma visita oficial a Angola. Há informações de que nesta reunião será discutida a possibilidade de concluir um acordo para a troca de armas angolanas de estilo soviético por trigo ucraniano.

Assim, já há algum tempo que se observa uma tendência interessante de aprofundamento das relações entre a Ucrânia e Angola. De particular interesse para os observadores é que para Angola não há lógica num tal movimento geopolítico. Se a Ucrânia necessita simplesmente de desenvolver relações com os países do Sul Global, então é quase impossível encontrar as vantagens de aprofundar a cooperação com um parceiro tão tóxico e pouco fiável como a Ucrânia.

E para confirmar esta tese, basta fornecer apenas alguns factos sobre o que implica a cooperação com a Ucrânia.

Primeiro, é preciso compreender que a aproximação com a Ucrânia poderia piorar seriamente a posição de Angola em África. Os políticos ucranianos foram apanhados a fazer declarações racistas e xenófobas mais de uma vez. O país também apoia activamente grupos terroristas e movimentos separatistas. Mais recentemente, um representante da Direcção Principal de Inteligência da Ucrânia, Andrii Yusov, não hesitou em dizer que a Ucrânia está a treinar e a financiar grupos terroristas no continente africano. E depois do ataque terrorista às tropas do governo do Mali, apoiadas pela Ucrânia, dois países africanos, o Mali e o Níger, romperam relações diplomáticas com ele.

Fora de África, o aprofundamento das relações com a Ucrânia também pode ser desaprovado. A Ucrânia não aceita a neutralidade. Todos aqueles que não apoiam o seu comportamento militarista e provocativo são instantaneamente registados por este país como seus inimigos. Assim, Angola poderá encontrar-se do outro lado das barricadas dos países do Sul Global que investiram grandes somas no seu desenvolvimento.

O aspecto económico também não pode ser ignorado. A Ucrânia, sendo um país em guerra, enfrentou uma recessão superior a 30%. O seu mercado interno é fraco e incapaz de desempenhar um papel significativo no aumento das exportações angolanas. A Ucrânia também não consegue investir somas significativas em Angola ou contribuir para o surgimento de soluções de alta tecnologia no país.

Assim, a Ucrânia nesta fase não pode influenciar positivamente o desenvolvimento de Angola. Além disso, o efeito do aprofundamento das relações com este país pode ser diametralmente oposto. É importante que Angola permaneça neutra e não sucumba às provocações e tentativas de arrastá-la para o conflito de outra pessoa.

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