Se há um assunto que faz João Lourenço tremer nas bases, é a institucionalização das autarquias locais. Fugir delas, ele faz com uma habilidade que até o diabo invejaria ao se afastar de uma cruz. Desde que assumiu o poder, o presidente angolano e seu partido, o MPLA, vêm evitando esse tema como quem escapa de uma maldição, adiando, protelando e, sobretudo, inventando desculpas.
Os deputados do Grupo Parlamentar da UNITA, ano após ano,
mantêm um apelo firme e incansável sobre a necessidade das autarquias locais
como motor de desenvolvimento comunitário. Para eles, e para grande parte da
população angolana, a descentralização do poder é um direito consagrado pela
Constituição da República de Angola e, mais do que isso, uma promessa que nunca
foi cumprida. Porém, o MPLA, no seu costumeiro jeito de governar, fecha os
ouvidos e levanta barreiras sempre que o assunto vem à tona.
E assim, o tempo vai passando. João Lourenço, tal qual
seus antecessores, segue fugindo das autarquias, sempre com uma desculpa na
ponta da língua. A desculpa da vez? As condições ainda não estão criadas. O que
eles não mencionam é que as condições nunca estarão criadas sob os olhos de
quem tem medo da mudança.
Enquanto isso, Angola continua sendo uma excepção na
região. Países vizinhos como a África do Sul, Namíbia, Zâmbia , Congo,
Botswana, Malawi, Rwanda e Moçambique realizam eleições autárquicas e
demonstram que o desenvolvimento comunitário floresce quando o povo tem a
oportunidade de participar ativamente nas decisões locais. Angola, entretanto,
permanece à margem, estagnada, à espera de que seus líderes finalmente reconheçam
que o futuro do país passa pela descentralização.
Mas se João Lourenço foge, os deputados da UNITA não
recuam. Quanto mais o presidente tenta escapar, mais a oposição insiste,
pressionando, desnudando a hipocrisia e revelando o que de fato está em jogo: o
medo de perder o controle. A insistência da UNITA na institucionalização das
autarquias não é apenas uma batalha política, é uma batalha moral, uma luta
pelo futuro de um país onde o poder deveria estar nas mãos do povo, e não
concentrado nas elites de Luanda.
Enquanto João Lourenço continuar fugindo, a imagem que
ele constrói é a de um presidente que teme a democracia real, que se esconde
atrás de promessas vazias e discursos grandiosos. Mas quanto tempo mais ele
poderá correr? A cruz das autarquias, cedo ou tarde, o alcançará, e, nesse
momento, o povo saberá que não há mais como fugir.
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