Situado na rua 64 do bairro residencial Urbanização Nova Vida, em Luanda, o edifício número 135 alberga a Biblioteca Drª Maria Antónia Jacinto Sebastião “MAJS”, construída de raíz para perpetuar o legado e os valores cultivados por esta médica, que se dedicou com zelo e elevado sentido altruísta no exercício da profissão. Por fora, o edifício chama logo a atenção de quem passa, pelos requintes da sua beleza arquitectónica, com traços modernos que lhe conferem uma distinção das demais casas à volta.
Devidamente apetrechada, o seu interior dispõe de três salas de leitura, uma sala de informática, um auditório com capacidade para 120 lugares, uma galeria, uma videoteca, uma piscina e uma esplanada.
O surgimento da biblioteca resulta de uma acção
filantrópica dos irmãos da médica Maria Antónia Jacinto Sebastião, falecida em
2020, vítima da Covid-19. Segundo um dos irmãos, António Joaquim da Cruz Lima,
a família decidiu construir uma biblioteca quando o Hospital Militar Principal
solicitou a entrega dos livros da médica e professora, no intuito de criar uma
sala de leitura que fosse baptizada com o seu nome, em reconhecimento do seu
papel enquanto professora de Neurologia no Instituto Superior Militar.
"Pelas circunstâncias trágicas da sua morte
durante a pandemia da Covid-19, preferimos não aderir à ideia do hospital, mas
sim fazer uma biblioteca pública, com fundos próprios, até porque alguns
estudantes e colegas também solicitaram monografias da própria e etc.
Preferimos que o conhecimento da medicina e da saúde de qualidade fosse mais
amplo do que circunscrito ao universo militar, principalmente porque aquela
professora dava consultas grátis em comunidades remotas, no âmbito da sua
igreja”, explicou António da Cruz Lima.
A biblioteca foi oficialmente inaugurada no dia 21 de
Junho deste ano, dia de aniversário da homenageada, cumprindo os grandes ideais
cultivados durante a sua vida, especificamente o amor ao próximo, a filantropia
e a partilha do conhecimento. Fica aberta de segunda-feira a sexta-feira, das
8h30 às 21h30. Segundo a directora da biblioteca, Rafaela Mendonça, nos
primeiros dois meses havia poucas visitas, enumerando cerca de 60 pessoas por
mês, visto que também não havia muita informação sobre a biblioteca. Por outro
lado, explicou que as pessoas quando viam o edifício, à primeira vista ficavam
com algum receio, acreditando que se tratasse de um serviço comercial
bibliotecário caro e não acessível ao público em geral. Consoante a divulgação
dos seus serviços e perfil filantrópico para a comunidade nas redes sociais,
muitas pessoas decidiram "matar a curiosidade” para de facto perceberem
que nada é cobrado pelos serviços da biblioteca. A directora avalia que
desde a inauguração cerca de 500 pessoas beneficiaram dos serviços da biblioteca,
um número que tende a crescer a cada mês. "Inicialmente eram mais
visitantes que vinham para matar a curiosidade sobre o espaço. Hoje temos cada
vez mais leitores, num número que cresce consideravelmente. São
maioritariamente estudantes que vêm cá com muita frequência, detalhou.
Foco na Medicina e Engenharia
Embora ofereça uma vasta gama de livros, que vai da
agricultura à religião, arte e arquitectura, a maior sala de leitura possui
maioritariamente livros de Medicina e Engenharia, que actualmente são os mais procurados
pelos visitantes. Os alunos, por exemplo, podem encontrar na biblioteca MAJS,
dentre muitos outros livros de consulta obrigatória, a edição de Sobotta (atlas
de anatomia humana), uma das grandes referências no aprendizado desta
disciplina fundamental para o curso. Com um acervo de mais de dois mil livros,
a grande sala de leitura tem uma capacidade de 35 lugares.
"Temos foco pela Engenharia e a Medicina por
serem cursos cujos livros são muito caros e a maioria dos alunos não tem
capacidade para comprar. São os que mais temos aqui na biblioteca”, justificou
Rafaela Mendonça.
A segunda sala de leitura é composta exclusivamente
por livros doados por particulares, visto que alguns chegam em mau estado de
conservação e podem contribuir para a rápida deterioração de outros. Por ser
uma biblioteca sem fins lucrativos, dependem de doações para aumentar o seu
acervo."As doações são sempre bem-vindas. Estamos abertos a parcerias com
editoras, mas ainda não temos resposta positiva”, enfatizou a directora.
Com uma capacidade de 20 lugares, a terceira sala de
leitura é destinada ao público infanto-juvenil. Além dos livros, a sala possui
adereços que facilitam as crianças a cultivarem hábitos de leitura e o
aprendizado da Matemática. Rafaela Mendonça explicou que a biblioteca foi
desenhada para atender os diferentes padrões da escolaridade e enquadrar todos.
"Não devemos pensar apenas nos alunos de classes
avançadas. As crianças não poderiam ser esquecidas. Os pais podem trazê-las
aqui para terem contacto com as histórias. Por exemplo, todas as sextas-feiras
recebemos uma turma de uma das escolas das redondezas. Os livros estão aqui e
esperam por elas”, apelou.
A sala de informática é uma das mais procuradas. Com
capacidade para 8 pessoas, os alunos beneficiam de internet grátis durante o
horário de funcionamento da biblioteca.
"Basta chegarem e apresentarem o seu Bilhete de
Identidade ou o cartão escolar. Os alunos, cujos pais não têm condições para
garantir o serviço de internet em casa ou num cyber, podem deslocar-se aqui
para fazer investigações”, convidou.
Percurso de vida e obra da médica
neurologista
Maria Antónia Jacinto Sebastião, natural de Luanda,
nasceu no dia 21 de Junho de 1960. É a filha primogénita de Jacinto Sebastião
João e Vitória Joaquim.
Em 1961, após o início da Luta Armada de Libertação
Nacional, torna-se órfã de pai, fruto da repressão colonial que resultou na
perseguição dos nacionalistas do 4 de Fevereiro. Esta situação ocasionou o
refúgio, na companhia da mãe, à época viúva, para a cidade de Moçâmedes, tendo
sido perfilhada, aos 3 anos de idade, por António da Cruz Lima Júnior, que se
casou com a sua jovem mãe viúva.
Naquela cidade fez os seus estudos primários, tendo
completado o ensino secundário no Liceu Barão de Moçâmedes, seguindo-se o Liceu
Salvador Correia e a Universidade Agostinho Neto, onde completou a licenciatura
em Medicina.
No decorrer dos anos 80 existia o serviço militar
obrigatório, o que levou o recrutamento dos estudantes finalistas de medicina
para integrar os SAMM - Servicos de Assistencia Medica Militar adstritos ao
Estado-Maior General.
No culminar da sua formação académica e no esforço da
defesa da pátria, ingressa nos Serviços de Assistência Médica Militar, afecto à
Direcção de Logística do Estado Maior General das Forças Armadas Populares de
Libertação de Angola (FAPLA), onde desenvolve a actividade de médica
policlínica no Hospital Militar Principal, durante os períodos mais intensos do
conflito armado após 1992.
Seguidamente, na República Francesa, obt Maria Antónia
Jacinto Sebastião, natural de Luanda, nasceu no dia 21 de Junho de 1960. É a
filha primogénita de Jacinto Sebastião João e Vitória Joaquim.
Em 1961, após o início da Luta Armada de Libertação
Nacional, torna-se órfã de pai, fruto da repressão colonial que resultou na
perseguição dos nacionalistas do 4 de Fevereiro. Esta situação ocasionou o
refúgio, na companhia da mãe, à época viúva, para a cidade de Moçâmedes, tendo
sido perfilhada, aos 3 anos de idade, por António da Cruz Lima Júnior, que se
casou com a sua jovem mãe viúva.
Naquela cidade fez os seus estudos primários, tendo
completado o ensino secundário no Liceu Barão de Moçâmedes, seguindo-se o Liceu
Salvador Correia e a Universidade Agostinho Neto, onde completou a licenciatura
em Medicina.
No decorrer dos anos 80 existia o serviço militar
obrigatório, o que levou o recrutamento dos estudantes finalistas de medicina
para integrar os SAMM - Servicos de Assistencia Medica Militar adstritos ao
Estado-Maior General.
No culminar da sua formação académica e no esforço da
defesa da pátria, ingressa nos Serviços de Assistência Médica Militar, afecto à
Direcção de Logística do Estado Maior General das Forças Armadas Populares de
Libertação de Angola (FAPLA), onde desenvolve a actividade de médica
policlínica no Hospital Militar Principal, durante os períodos mais intensos do
conflito armado após 1992.
Seguidamente, na República Francesa, obtém com
sucesso, na Universidade de Lyon, a especialidade em doenças tropicais. Em 1999
parte, para Portugal, no âmbito da especialização de quadros médicos militares
da República de Angola naquele país europeu, tendo feito o internato de
especialidade em Neurologia e exercido prática médica de especialização no
prestigiado Hospital São João, na cidade do Porto, por um período de formação
alargado de 10 anos, acção integrada na constituição da Divisão de Saúde das
Forças Armadas Angolanas (FAA).
No seu regresso ao país, com a conversão do Hospital
Militar Principal em Instituto Superior, a coronel Maria Antónia Jacinto
Sebastião dirigiu a sub-unidade do Departamento de Neurologia com a função de
chefe desse departamento, integrando o corpo docente do Instituto Superior
Técnico Militar como regente da cadeira de Neurologia. Membro do Colégio de
Neurologia da Ordem dos Médicos de Angola, Maria Antónia Jacinto Sebastião foi
membro fundador da Sociedade Angolana de Neurologia.
Faleceu em Luanda, no dia 3 de Outubro de 2020,
enquanto tratava de doentes infectados. A médica e mais dois colegas ficaram
infectados pelo vírus da Covid-19 quando tratavam de pacientes com um quadro
respiratório complicado.ém com sucesso, na Universidade de Lyon, a
especialidade em doenças tropicais. Em 1999 parte, para Portugal, no âmbito da
especialização de quadros médicos militares da República de Angola naquele país
europeu, tendo feito o internato de especialidade em Neurologia e exercido
prática médica de especialização no prestigiado Hospital São João, na cidade do
Porto, por um período de formação alargado de 10 anos, acção integrada na
constituição da Divisão de Saúde das Forças Armadas Angolanas (FAA).
No seu regresso ao país, com a conversão do Hospital
Militar Principal em Instituto Superior, a coronel Maria Antónia Jacinto
Sebastião dirigiu a sub-unidade do Departamento de Neurologia com a função de
chefe desse departamento, integrando o corpo docente do Instituto Superior
Técnico Militar como regente da cadeira de Neurologia. Membro do Colégio de
Neurologia da Ordem dos Médicos de Angola, Maria Antónia Jacinto Sebastião foi
membro fundador da Sociedade Angolana de Neurologia.
Faleceu em Luanda, no dia 3 de Outubro de 2020,
enquanto tratava de doentes infectados. A médica e mais dois colegas ficaram
infectados pelo vírus da Covid-19 quando tratavam de pacientes com um quadro
respiratório complicado.

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