Entre as inúmeras histórias que se entrelaçam na memória da nossa revolução, algumas delas são marcadas pelos sacrifícios de homens e mulheres que arriscavam as suas vidas pela causa da UNITA. São essas histórias que ecoam no silêncio do tempo, mas nunca devem ser esquecidas.
Quando, em Março, fui indicado para integrar uma comitiva
da Ovip-LMS – Organização Virtual Instituto Polivalente Loth Malheiro Savimbi –
para participar da "Chama do Guerrilheiro", em celebração aos 58 anos
da UNITA, alguma coisa me dizia, no fundo do coração, que algo de especial
estaria para acontecer naquela bela tarde. Desde já, agradeço o convite do
Secretário para a Organização do Partido, Hélder Santos.
Aconteceu no ano de 1983. Foi assim: um oficial das FALA,
na altura a residir na Jamba, recebeu uma orientação do General de Exército e
Alto-Comandante das FALA, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, por intermédio do então
Comissário Político Militar, General Satchipengo Nunda, para se deslocar para
uma das Regiões Militares ao norte do Caminho de Ferro de Benguela – se a
memória não me falha.
O referido Oficial achou por bem levar consigo a sua
querida esposa e o belo bebé recém-nascido. Partiram de Unimog. Naquela altura,
por questões de segurança, era preferível viajar na calada da noite ou de
madrugada. Infelizmente era tempo de cacimbo, e na chana do Luiana as
temperaturas quase chegavam próximo do zero.
Apesar de terem agasalhado devidamente o bebé, não
resistiu às baixas temperaturas. Os pais só se aperceberam ao chegarem à
Mbembwa – principal Centro de Formação de Quadros Políticos do Partido,
conhecido como Centro de Estudos Comandante Kapesi Kafundanga – CECKK. O
enfermeiro local fez todas as manobras de reanimação, mas, para tristeza de
todos, foi confirmado o óbito.
A missão tinha de continuar. A responsabilidade pelo
sepultamento foi confiada a um oficial que era professor de topografia no
CECKK. Segundo esse mesmo oficial e professor, o bebé foi o primeiro a ser
sepultado no cemitério local.
Após essa revelação, o destemido comandante e pai do bebé
recém-nascido tomou a palavra. Visivelmente emocionado olhou lentamente para o
céu – e eu acompanhei-lhe o olhar; pareceu-me que ele estivesse a ver, no seu
imaginário, o recém-nascido a dormir ao colo da sua mãe durante a fatídica
viagem ao atravessarem a chana do Luiana. Acto contínuo, concentrou-se no
pessoal que o escutava atentamente e disse: "Foi um momento muito duro,
principalmente para a minha esposa! Eu, como militar, aprendi a colocar a
Pátria em primeiro lugar. Deixei a responsabilidade de enterrar o nosso bebé
com..." – apenas indicou com a mão esquerda, na direcção do peito do
antigo professor do CECKK – que, por sua vez, confirmou apenas com um balançar
da cabeça. Depois, o oficial, que agora é Brigadeiro na reforma, … (continua no
livro...)
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