O processo de privatização dos ativos do Grupo CIF, que inclui uma das maiores fábricas de cimento de Angola, está a ser alvo de sérias suspeitas. De acordo com fontes ligadas ao processo, o concurso já teria um vencedor pré-determinado: os mesmos investidores chineses que detinham 40% de participação no Grupo CIF antes do arresto dos ativos pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A dúvida que paira é se o arresto foi aplicado apenas à quota dos acionistas angolanos, incluindo os generais Dino e Kopelipa, ou a todos os sócios do grupo.
No primeiro trimestre de 2024, o Ministro do Comércio e Indústria, Rui
Minguês, nomeou o jovem angolano Délcio Silva como Diretor-Geral (DG) da
Fábrica de Cimento CIF, destacada pelo seu potencial estratégico para o país.
Silva começou a implementar mudanças significativas, visando defender os
interesses do Estado, como o congelamento de contratações externas e a
reestruturação da equipe. No entanto, surpreendentemente, foi exonerado após
apenas dois meses no cargo. A sua demissão foi vista como resultado da pressão
de figuras políticas de alto escalão, que exigiram o retorno de Zhu Ying,
cidadão chinês, ao cargo de Diretor-Geral, acompanhado de Xing Liang como
Diretor Comercial.
Zhu Ying, que havia sido demitido em 2018 pelo então DG Brian You Ming por
má gestão e fracos resultados financeiros, voltou ao cargo em meio a novas
críticas. Fontes internas afirmam que Ying já implementou decisões
controversas, como a demissão de técnicos competentes, a substituição de um
diretor administrativo angolano por um chinês com salário quatro vezes maior, e
gastos desnecessários, incluindo a compra de quatro iPhones de última geração.
A fábrica, que já enfrentava dificuldades financeiras e operacionais, como
a incapacidade de produzir clínquer, continua sem uma gestão clara. Há relatos
de que trabalhadores temem o retorno a condições de trabalho precárias,
semelhantes às vividas antes do arresto dos ativos. A contratação de mais
chineses com altos custos mensais também gerou preocupação, numa altura em que
muitos quadros angolanos estão disponíveis no mercado.
A nomeação de Zhu Ying tem levantado questões sobre a imparcialidade do
concurso de privatização da fábrica de cimento, um processo supervisionado pelo
IGAPE (Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado). A demora na
divulgação dos resultados do concurso, lançado em maio de 2024, alimenta ainda
mais as suspeitas de favorecimento aos interesses chineses.
Fontes ligadas ao processo acreditam que as decisões recentes na gestão da
fábrica estão a prejudicar os interesses do Estado e o futuro da empresa. Com
dívidas acumuladas e uma gestão considerada ineficaz, a fábrica de cimento,
outrora um dos ativos mais importantes do setor industrial angolano, corre o
risco de encerrar suas atividades, o que poderá levar milhares de trabalhadores
ao desemprego.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) está a ser pressionada a investigar
o processo de privatização, que muitos consideram viciado, para garantir que os
interesses de Angola não sejam prejudicados e que os responsáveis por eventuais
irregularidades sejam responsabilizados. O futuro da fábrica de cimento CIF, um
ativo estratégico para o desenvolvimento do país, está agora nas mãos do Governo
e das autoridades de fiscalização.
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