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Os Desafios do Ensino em Angola - Gerson Prata

 O que se pretende com este texto é reflectir seriamente sobre os desafios que cercam a educação em Angola, e não, necessariamente, procurar culpados do estado actual do ensino. É crucial reconhecer que o sucesso do processo educativo depende da colaboração entre o Governo, os professores, os alunos e os encarregados de educação. Nesse âmbito, as responsabilidades estão distribuídas entre os intervenientes: a Pátria pela Educação, e a Educação pela Pátria.

O Governo deve assegurar as condições necessárias para um ensino de qualidade, como salas de aula adequadas e um número razoável de alunos por sala; instalações sanitárias funcionais; merenda escolar para os alunos do ensino primário e recursos tecnológicos. Quando faltam essas condições, a qualidade de ensino é gravemente afectada. Por sua vez, o professor tem a responsabilidade de ser assíduo e de manter a qualidade das aulas. Nesse particular, somente trabalhariam no ensino primário os docentes mais bem preparados para tal. É de pequeno que se torce o pepino. Outrossim, o aluno deve aplicar-se aos estudos; e o encarregado de educação deve estar envolvido no processo, pois a falta de interacção escola/famílias prejudica o aprendizado.


No final das contas, cada um deve ter consciência de que a falha de um compromete todo o sistema. Por isso é que, quando o Governo falha, a greve é uma resposta legítima. No entanto, deve haver uma contra-parte: os professores que, após períodos de greve, continuarem a faltar ou a chegar atrasados às aulas, devem ser punidos exemplarmente. Para tal, é essencial que os directores e subdirectores cumpram integralmente o seu papel, garantindo a presença e a pontualidade dos professores. Mas isso não se verifica. Quem deveria dar exemplo é quase sempre o primeiro a falhar. Os directores, na sua maioria, são os últimos a chegar e os primeiros a abandonarem o local de trabalho. São os que mais faltam. Não têm moral para fiscalizar ninguém nem tempo para avaliar o desempenho de seus professores. Infelizmente, a cultura de acomodação observada entre servidores públicos, que sentem que a estabilidade no emprego os protege das suas responsabilidades, contribui para a mediocridade no sistema educacional.
As mudanças são necessárias, e isso começa com a liderança que deve dar o exemplo. É fundamental que as entidades responsáveis tomem medidas eficazes para incrementar a qualidade de ensino. É imperativo que o Governo priorize o investimento em tecnologia educacional, disponibilizando computadores e acesso à Internet nas escolas. A incorporação de ferramentas digitais e vídeo-aulas como apoio ao ensino pode ser uma solução viável, uma vez que os professores mal preparados impactam directamente na aprendizagem dos alunos. A falta de competências dos educadores afecta a formação de futuros profissionais, colocando em risco o desenvolvimento do país.

Temos diante de nós o desafio de dispensar educadores que não atendem aos padrões mínimos de competência, pois a formação deficiente de um único professor pode prejudicar centenas de alunos. Daí a necessidade dos professores investirem nas suas próprias formações, e sempre que necessário for, com o apoio do governo. A obtenção de títulos não deve ser o único objectivo; o foco deve ser o desenvolvimento de habilidades práticas e pedagógicas. Seminários, capacitações e workshops sobre conteúdos específicos são essenciais.

É hora de agir para garantir que cada aluno receba a educação que merece e que adquira as competências necessárias para que no futuro possa competir de forma justa no mercado de trabalho.

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