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Bali Chionga: “Temos uma diáspora que lá fora não trabalha”

 No programa Revista Zimbo intitulada, durante o debate sobre "Procura de moeda estrangeira afunda Kwanza", o comentarista Bali Chionga fez a afirmação acima citada e argumentou que "nós sustentamos muitas pessoas lá fora". No entanto, é pertinente salientar que o analista omitiu vários factos cruciais, resultando em uma visão parcial e incompleta.

Análise e Reflexão

É importante mencionar que a nova política bancária em Angola proíbe os bancos e agências financeiras comercializar em moedas estrangeiras. Esta medida foi implementada com o objectivo de regulamentar e controlar a saída de moeda estrangeira do país, dada a escassez de divisas e a valorização do dólar face ao Kwanza.


A gestão económica e política desempenha um papel crucial na fortificação ou fragilização das economias. Em Angola, a dependência do petróleo como principal fonte de receita tem criado vulnerabilidades significativas, especialmente frente à volatilidade dos preços do petróleo no mercado global. Além disso, questões de governança, corrupção e políticas económicas ineficazes têm contribuído para a estagnação económica do país.

Contrariamente a Angola, muitos países africanos têm mostrado resiliência económica e diversificação das fontes de receita. Países como Botswana, Namíbia e Ruanda têm adoptado políticas económicas mais eficazes e diversificadas, promovendo sectores como o turismo, a agricultura e os serviços financeiros. Ao contrário de Angola, a maioria dos países africanos têm economias mais fortes e com moedas locais bastante valorizado relativamente ao dólar.
Na Namíbia, a economia e mais estável e a valorização do dólar criam um ambiente propício para o investimento. Com cinco mil dólares, é viável começar um negócio nos sectores de transporte ou construção, aproveitando a infra-estrutura relativamente desenvolvida e o custo de vida mais acessível. Já em Angola, a situação é bem diferente. Com o mesmo montante de cinco mil dólares, as oportunidades de investimento são limitadas como resultado do custo de vida, inflação tornando difícil iniciar um negócio viável.

Remessas para Portugal Estados Unidos da América

Bali Chionga não especificou que as remessas de dólares americanos enviadas principalmente para Portugal e EUA têm como principais beneficiários os filhos dos governantes e empresários associados ao MPLA que se refugiaram neste país. Para ser mais concreto, mais de 70% dos membros do governo do actual e ex-governo enviaram as suas famílias para Portugal. Como resultado da crise económica que se vive em Angola desde 2017. Esta situação reflecte a falta de confiança nas políticas económicas nacionais e a busca por ambientes mais estáveis e seguros para os seus familiares.

Portugal e os Estados Unidos da América são, de facto, os dois países onde reside um número significativo de familiares associados do MPLA. Além disso, famílias de responsáveis da Sonangol e também se encontram nestes países.
A afirmação de que a diáspora angolana não trabalha é uma generalização incorrecta e simplista. Usar como única fonte de análise os familiares dos governantes do MPLA que residem em Portugal e nos Estados Unidos não só distorce a realidade como ignora a diversidade e a complexidade das experiências dos angolanos na diáspora.

Contexto Económico

Os fatores económicos desempenham um papel crucial na moldagem das vidas dos angolanos tanto dentro quanto fora do país. As políticas económicas em Angola, caracterizadas por instabilidade e falta de incentivos para investimentos, não promovem um ambiente propício para o crescimento e desenvolvimento sustentável. Consequentemente, leva muitos angolanos a procurarem melhores oportunidades no estrangeiro, onde muitas vezes se limitam a enviar remessas para sustentar suas famílias em despesas correntes como alimentação, educação e saúde, devido à falta de um sistema econômico robusto e de políticas que incentivem investimentos contínuo. Ao contrário de outras diásporas africanas, como as da Nigéria e do Gana, que conseguem investir de forma significativa nas economias dos seus países de origem.

Factores Políticos e Gestão Económica

A política em Angola também é um factor determinante nas dinâmicas da diáspora. A instabilidade política e a corrupção são barreiras significativas para o progresso económico e social. A percepção de que os recursos do país são mal geridos e que as oportunidades são distribuídas de forma desigual leva muitos angolanos a buscar uma vida melhor em outros lugares.
Para que a diáspora angolana possa contribuir de forma mais efectiva para o desenvolvimento do país, é necessário implementar políticas inclusivas que promovam a transparência, a justiça e a igualdade de oportunidades. Isso inclui criar um ambiente favorável para investimento, promover a boa governação e assegurar que os direitos dos cidadãos, tanto dentro quanto fora do país, sejam respeitados.

Práticas de Câmbio pela Diáspora

O impacto do alto valor do dólar em Angola tem levado a diáspora a optar por alternativas para enviar dinheiro às suas famílias. Uma das práticas mais comuns envolve a negociação directa.
A metodologia baseia-se na troca de dólares no exterior por kwanzas em Angola, através de um intermediário ou agências informais. Este processo envolve entregar a quantia em dólares a uma pessoa no país de residência, que, por sua vez, retira o equivalente em kwanzas de uma conta bancária em Angola.

Para ilustrar de forma simplificada: se você está na França entrega cem dólares ao intermediário na França. Este retira da sua conta bancária em Angola o valor equivalente em kwanzas. Este método apresenta uma solução pragmática para enfrentar as dificuldades impostas pelo elevado valor do dólar e garantir o sustento das famílias angolanas no exterior.
Esta prática de câmbio informal revela a resiliência e a engenhosidade da diáspora angolana frente a um cenário económico desafiador, ao mesmo tempo que evidencia as complexidades envolvidas na gestão de remessas num contexto de alta valorização da moeda estrangeira.

Conclusão

É importante compreender que a realidade da diáspora angolana é multifacetada e envolve uma série de factores económicos, sociais e políticos. A generalização de que a diáspora angolana não trabalha feita pelo analista Bali Chionga é uma avaliação baseada apenas em casos específicos de familiares de governantes com o rótulo de “marimbondos” residentes essencialmente em Portugal e Huston e não reflecte a realidade da maioria dos angolanos na diáspora.

Portanto, a retirada de grandes quantidades de dólares de Angola é predominantemente realizada por camaradas associados ao governo, visando suportar os encargos das famílias que se refugiaram no exterior do país desde 2017.

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