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A fuga para a frente de Vladimir Putin ? - Wilson Adelino Filipe

A ameaça provocada pela projecção da NATO no Leste europeu, concretamente em antigos satélites russos como é o caso da Ucrânia, orientada na lógica geopolítica e geoestratégica Ocidental/EUA de “conter e cercar a Rússia”, em nossa análise, motivou Vladimir Putin a invadir a Ucrânia na Quinta-Feira do dia 24 de Fevereiro de 2022, medida que surpreendeu a todos pela tamanha ousadia em pleno século XXI.

Muitos analistas e perítos em assuntos internacionais, consideram a invasão à Ucrânia de uma “fuite en avant”, fuga para frente (em português), por entenderem que Putin quer passar a ideia de querer resolver o problema do afunilamento geopolítico e estratégico, através de uma solução arrojada, quando na verdade está a fugir dele. A fuga para a frente está quase sempre associada a ideia de escapar de uma situação difícil, cujas engrenagens são obrigadas a trabalhar apenas para a solução que se considera ser a priori, a mais viável, cujos processos são funestos e complexos, no entanto imprecisos, ou seja, o chamado tiro no escuro.

O teatro de operações da guerra Rússia-Ucrânia, depois de dois anos e meio, tem mostrado alterações de paradigmas bastante significativas, por um lado a Rússia projectou uma operação rápida e cirúgica, concentrando-se apenas na incursão pelo território ucraniano, por outro, o apoio em tecnologia militar e armamento avançado que a Ucrânia vem recebendo do Ocidente, tem permitido atrasar este avanço russo e recentemente o exército ucraniano conseguiu adentrar o território russo pela região de Kursk, obrigando a realocação das forças russas. Todo este cenário irá garantir que este conflito se prolongue causando desgastes e a história dos conflitos internacionais diz que toda guerra prolongada é onerosa, em todos os aspectos, diga-se.

A incerteza do tempo em que perdurará o conflito, o desgaste e as perdas humanas e em que condição a Rússia sairá dele, a princípio podem sustentar a ideia do “tiro no escuro” dado por Vladimir Putin, que de forma geral poderá sair fragilizada deste conflito, sendo que no plano interno ficará a incerteza se conseguirá manter a sua “Democracia Soberana” e se no plano internacional, o Ocidente mormente os Estados Unidos de América terão cumprido com o seu desiderato de enfraquecer a Rússia.

Entretanto, há um aspecto que deve ser tido em conta, que tem que ver fundamentalmente com o facto que este conflito pela leitura que se faz, ser mais vital para a Rússia do que para o Ocidente, porque a Ucrânia representa actualmente, o cordão de segurança imediato mais importante face ao Ocidente, ou seja é a Ucrânia é o Estado-Tampão para a Rússia em relação a NATO, e considerando as infraestruturas existentes na Ucrânia e a capacidade da projecção de força que a NATO possui, caso a Ucrânia adera a União Europeia e consequentemente a esta organização militar Ocidental, colocaria em risco a segurança da Rússia, logo, a Rússia está diante de um caso de tudo ou nada, no entanto, ainda que não vença, estará determinada em trabalhar na criação de condições política e militarmente favoráveis para desencorajar firmemente o Ocidente dos seus intentos Geopolíticos e Geoestratégicos que ameaçam a segurança da Federação Russa e é exactamente ali onde está a maior preocupação.

Que cenário nos aguarda? Pós-pocalíptico que já se modela nas cidades ucranianas? É incerto, certo é que estamos diante de um conflito em que nenhuma das partes quer ceder.


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