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OS TPA BOYS DA NOSSA ECONOMIA-ANDRÉ KIVUANDINGA

 No canto abafado de uma agência bancária no coração de Luanda, o gerente Celso B. olha fixamente para a tela do computador, enquanto digita com agilidade algo que parece importante. Seu semblante calmo não revela o turbilhão de actividades que acontecem longe dos olhos dos clientes comuns. É uma sexta-feira como outra qualquer, mas, para ele, é dia de movimentações especiais.

Do outro lado do balcão, os clientes reclamam da falta de dinheiro nos caixas electrónicos. "Sempre a mesma história!", exclama Dona Júlia, uma senhora de idade avançada que precisa sacar seu dinheiro da segurança social. Ao seu lado, jovens impacientes verificam suas contas nos celulares, na esperança de encontrar uma agência com dinheiro disponível.

Entretanto, Celso sabe exactamente para onde o dinheiro está ir. Ele disfarçadamente levanta-se e vai até a sala dos fundos, onde dois jovens vestidos de roupas simples aguardam, mas com o brilho da ousadia nos olhos. São os "TPA boys", uma nova profissão que entra no nosso léxico, inventada por mim, aqueles que conseguem acesso aos Terminais de Pagamento Automático (TPA) de forma inusitada.

Celso entrega-lhes dois volumosos pacotes de dinheiro, que rapidamente desaparecem nas mochilas desgastadas dos rapazes. A troca foi rápida e silenciosa, apenas com um aceno de cabeça em sinal de aprovação. Estes jovens estão no epicentro de uma rede que utiliza os terminais de pagamento para movimentar grandes quantias de dinheiro, muitas vezes provenientes de fontes ilícitas.

Enquanto isso, o Banco Nacional, a entidade reguladora, parece manter um olhar impávido e sereno, alheio às movimentações obscuras que ocorrem sob seu nariz. É um silêncio cúmplice que favorece a lavagem de dinheiro e deixa a população sem acesso ao básico: seu próprio dinheiro.

Nas ruas, as filas crescem diante das poucas ATMs que ainda têm algum dinheiro. A tensão é palpável, e a frustração, um grito contido em cada rosto suado pelo calor da cidade. O descontentamento ecoa nos bairros, nos mercados, nas casas. As pessoas estão à mercê de um sistema que parece conivente com a corrupção.

Certo dia, a notícia de uma auditoria surpresa se espalha como fogo. A esperança renasce, mas é rapidamente esmagada quando os resultados são publicados: "Nenhuma irregularidade encontrada". Os TPA boys continuam suas operações, os gerentes mantém suas práticas, e o povo, como sempre, tem que encontrar maneiras de sobreviver à escassez de dinheiro nos caixas electrónicos.

E assim, num ciclo vicioso, a normalidade se restabelece. A economia informal prospera, a lavagem de dinheiro encontra solo fértil, e a entidade reguladora mantém seu olhar impávido e sereno, enquanto a população, resignada, espera por dias melhores, quem sabe, em um futuro distante onde a honestidade fosse a regra, e não a excepção.

No final das contas, a crónica sobre os gerentes bancários em Angola revela mais do que simples práticas ilegais. Ela mostra um retrato fiel de um sistema que precisa urgentemente de reformas profundas e de uma fiscalização efectiva. Somente com uma postura firme e ética das autoridades será possível garantir que o dinheiro do povo esteja onde deve estar: nos caixas electrónicos, ao alcance de todos.

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