É curioso como o destino e a política têm seus caminhos misteriosos, especialmente quando falamos daquelas vastas províncias do Cuando Cubango e do Moxico. Sempre me intrigou esse paradoxo: duas províncias gigantescas, onde, se não for por uma buzina ou um alarme de carro, a natureza é que dita o ritmo da vida. Seriam regiões dignas de um épico filme de aventuras, mas, ao invés disso, são o cenário de um desenvolvimento que anda a passos de cágado cansado.
A primeira vez que ouvi falar da ideia de dividir essas
províncias, imaginei logo que seria uma medida salvadora. Isto foi ainda no
mandato do então Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Afinal,
pensava eu, como pode uma província tão vasta ser gerida de maneira eficiente?
Devem ser as distâncias que fazem com que as boas intenções de desenvolvimento
se percam no caminho, atrasadas pela falta de combustível ou talvez pelo facto
de que, depois de dias ou horas de estrada, ninguém se lembra mais da pauta da
reunião. Então, a solução óbvia parecia ser partir essa imensidão em pedaços
mais manejáveis, assim, quem sabe, o progresso chegaria antes que a paciência
se esgotasse.
Mas, eis que surge a notícia bombástica: vamos dividir...
Luanda! Oi? Sim, a nossa querida capital, a menor das menores em termos de
extensão, mas que em caos, trânsito, e confusão, supera qualquer cidade de
proporções titânicas. Parece que agora a divisão não tem nada a ver com
quilómetros quadrados ou com quantos dias se demora para atravessar a
província. É uma questão de vontade política! E como dizem por aí, onde há
vontade... há caminho. Não sei se essa ideia constava no programa de governação
2022-2027, mas, sinceramente, esses camaradas são tão ágeis e discretos que só
percebemos quando a coisa já está feita.
Agora, vamos combinar: que momento para querer dividir o que
já está a dividir nossas cabeças, não é? Estamos em tempos em que a palavra
"economia" só aparece nos discursos para justificar porque não
podemos fazer algo. Mas, quem se importa com esses detalhes, quando se tem um
plano tão visionário? Afinal, se há algo que aprendemos ao longo dos anos é que
quando os camaradas colocam algo na cabeça, só tiram para pôr o chapéu.
Então, lá vamos nós, rumo a uma nova configuração
administrativa. Mas não sem antes cruzar os dedos e rezar para que essa divisão
não multiplique nossos problemas. E se o objectivo é alcançar a velhice com
sabedoria, talvez fosse melhor deixar algumas coisas para depois. Mas, como diz
o ditado popular, teimoso como um camelo sedento, vamos assistir a essa novela
com pipoca na mão, torcer para que o próximo capítulo não seja um drama, mas
uma comédia — das boas!
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