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A GRANDE OPERAÇÃO GAFANHOTOS NO RIVUNGO-ANDRÉ KIVUANDINGA

 Era uma manhã como outra qualquer no Rivungo, quando o céu começou a escurecer de forma anômala. Não, não era uma tempestade  a se formar, mas uma nuvem de gafanhotos que avançava como uma horda faminta, pronta para devorar nossas colheitas promissoras. O alarme soou na Administração Municipal, e logo todos os olhares se voltaram para o Governo Províncial, através da direcção provincial da Agricultura e Pescas, em busca de uma solução milagrosa.

Em uma resposta rápida e coordenada, recebemos uma viatura e outros equipamentos para combater a praga. Com um plano traçado minuciosamente na província, e bem implementado pelo administrador municipal Abílio Jornal Sasongo e seu adjunto, Alberto Pinto Chinjumbia, começamos a nossa missão.

Garcia João Rampa, o director municipal da agricultura, liderava a operação com a seriedade de um general em campo de batalha. Ao seu lado, estava Adálio Ishmael Samela Hungulu meu compadre e nas vestes de técnico agrícola depois de participar numa formação, que assumiu o papel de estrategista na guerra contra os gafanhotos.

Com a viatura carregada de pesticidas, nós partimos para as lavras, armados com pulverizadores e uma determinação inabalável. A operação, baptizada de "Anjo Exterminador", era digna de um filme épico. Garcia João Rampa, com seu chapéu de "palha", dava ordens como um maestro a conduzir uma sinfonia caótica, enquanto Adálio Ishmael Samela Hungulu se movia entre as fileiras de milho e sorgo, desenhando linhas perfeitas de desinfecção.

Os gafanhotos, inicialmente imperturbáveis, começaram a cair como folhas secas ao toque dos pesticidas. O cheiro do produto químico se misturava ao suor e à poeira, criando uma atmosfera de batalha surreal. A cada lavra desinfectada, sentíamos a vitória mais próxima, e a promessa de uma colheita abundante acendia um brilho de esperança em nossos olhos.

No final do dia, os gafanhotos estavam aniquilados, suas carcaças espalhadas pelos campos como testemunhas de nossa bravura. Rivungo havia vencido a guerra, e a notícia da nossa vitória ecoou pelas províncias vizinhas. Com uma colheita que superava todas as expectativas, nos tornamos o epicentro do abastecimento de cereais, transformando nossa adversidade em uma celebração de abundância.

A operação "Anjo Exterminador" se tornou uma lenda local, e nós, os heróis improváveis, fomos celebrados com pompa e circunstância. João Rampa e Adálio Ishmael Samela Hungulu "receberam medalhas" de honra, simbolizadas em espigas de milho, e Abílio Jornal Sasongo e Alberto Pinto Chinjumbia foram aplaudidos por sua liderança exemplar.

 Quanto a mim, ganhei uma história para contar aos netos e a certeza de que, no Rivungo, até as nuvens de gafanhotos podem ser derrotadas com determinação, um bom plano e, claro, um pouco de humor.

Nossa pequena comunidade, unida pelo desafio, agora colhia os frutos do seu esforço, literalmente. E assim, entre risos e abraços, celebramos a colheita e a certeza de que, no coração do Rivungo, a coragem e a camaradagem sempre triunfariam sobre qualquer adversidade, mesmo que ela viesse em forma de pequenos e famintos invasores alados.

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