Bandeiras de partidos políticos em jogos de futebol? Em Angola, é algo que acontece. Um dos últimos casos polémicos foi a 6 de junho, no Estádio Nacional 11 de Novembro, durante um jogo de apuramento para o Mundial 2026.
Em vez de bandeiras nacionais, alguns adeptos empunhavam bandeiras da União
Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) - o que reacendeu no país
o debate sobre o uso de propaganda política em eventos desportivos.
Esse foi o primeiro de dois outros incidentes que ocorreram no espaço de
poucos dias. Foi a 6 de junho, durante o jogo de futebol entre Angola e
Eswatini, envolvendo alguns adeptos exibiram a bandeira do maior partido da
oposição no país.
Adriano Abel Sapinãla, secretário provincial do partido em Luanda, garante
que não foi uma ação orientada. "Foi um movimento que surgiu de forma
espontânea. Eu recebi telefonemas de muitas entidades que estavam no estádio,
porque pensavam que fosse qualquer coisa que vinha da nossa direção",
explicou Abel Sapinãla.
Dias depois, a 11 de junho, no jogo contra os Camarões, foi reportada nova exibição de bandeiras – tanto da UNITA, como do partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
No passado, houve outros casos. Durante o Campeonato Africano das Nações (CAN)
realizado em Angola, em 2010, o Movimento Nacional Espontâneo (MNE), ligado ao
MPLA, foi acusado de promover a imagem do antigo chefe de Estado, José Eduardo
dos Santos.
Mas as regras da FIFA, o órgão regulador do futebol mundial, são claras:
política e desporto não se misturam.
Face aos acontecimentos, o analista desportivo João Neto avisa que o país
se arrisca a ser sancionado - e os partidos sabem disso, comenta Neto em
declarações à DW.
"Eu acredito que não seja por ignorância. Qualquer um dos partidos
político tem nas suas áreas de ação elementos que respondem por cada
área", argumentou.
"Nota de repúdio"
Recentemente, a direção do Estádio Nacional 11 de Novembro, afeta ao Ministério da Juventude e Desportos, emitiu uma nota de repúdio em que censura os "cenários de propaganda extra desporto".
Em vez de bandeiras dos partidos políticos nos estádios, o que é preciso é mais
investimento no desporto, refere o comentador desportivo João Neto.
"Muitos políticos têm-se aproveitado do desporto, mas não dão aquilo
que é devido para o crescimento do desporto, seja em África ou em qualquer
parte do mundo", disse Neto.
O político da UNITA, Adriano Abel Sapinãla, considera, no entanto, que é
difícil separar o desporto da atividade política: nos estádios, os adeptos agem
de forma espontânea, com bandeiras e cânticos partidários; mostram
orgulhosamente as cores políticas.
"Se é um palco de disputa, muitas vezes, confunde-se, diz-se que o
desporto não tem nada a ver com a política, mas em rigor, claramente o desporto
é também política", disse.
A DW tentou contactar o comité provincial do MPLA, em Luanda, mas não foi
possível obter uma reação.
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