Ticker

10/recent/ticker-posts

Lançamento do Livro "Savimbi, um Homem no seu Martírio" de Xavier de Figueiredo

 Chegou hoje, 20 de Fevereiro, às livrarias de Portugal um livro que promete provocar reflexões profundas sobre a história política de Angola. Intitulado "Savimbi, um Homem no seu Martírio", a obra de 300 páginas é editada pela Guerra & Paz e tem como autor Xavier de Figueiredo, um respeitado jornalista veterano nascido em Angola, mais precisamente no Huambo.

O livro tem Jonas Savimbi como figura central. Não é uma biografia, no sentido clássico do género, mas sobre aspectos-chave da sua rica e agitada vida política. O tempo em que essa vida foi vivida, o muito daquilo que a preencheu e a sua coexistência com outras figuras marcantes do processo político angolano, também transmitem à obra a dimensão de uma história política e militar de Angola.

Ao longo das páginas, o autor mergulha em momentos marcantes da vida de Savimbi, explorando a sua relação com outras figuras proeminentes do panorama político angolano.

O prefácio é assinado por João Soares, enquanto o posfácio fica a cargo de Liberty Chiyaka. A apresentação pública do livro está agendada para o dia 27 de Fevereiro, em Lisboa, e será conduzida por Isaías Samacuva.

Xavier de Figueiredo, conhecido por sua vasta experiência no jornalismo africano, fundou e dirigiu diversas publicações em Portugal, incluindo a África Confidencial, África Focus e África Monitor.

O enfoque da obra é aquilo que o autor considera ter sido a implacável e persistente campanha do MPLA e do regime por ele criado para desacreditar e ofuscar Savimbi, mas que também sempre admitiu a sua eliminação física. Foi, como refere, uma campanha baseada na propaganda, na desinformação e em operações especiais de segurança.

A narrativa em que a campanha se apoiou variou conforme as circunstâncias. Fantoche do apartheid, lacaio do imperialismo, como convinha no tempo do partido único e da aliança com a URSS e Cuba. Homem sem palavra, e sem escrúpulos, criminoso de guerra ou chefe terrorista, quando se tratou de o chamuscar na fase final da sua vida.

O ponto de vista do autor é o que tal narrativa se destinou sempre a dissimular o que verdadeiramente movia o regime: o medo de Savimbi, como adversário político, devido a atributos como o seu génio político e o seu carisma, mas também a suas afinidades com o mais vasto grupo étnico-linguístico do país. O seu afastamento, no tempo do partido único, tinha por fim acabar com a UNITA. Depois, no período do multipartidarismo, era fazer da UNITA um partido subordinado.

O livro contém muitas revelações, algumas delas do conhecimento directo do autor. Entre elas a de que Neto, amargurado com o colapso económico e social em que o país caíra no pós-independência, tentou chegar a um compromisso com Savimbi para pôr termo à guerra civil, em 1979. A iniciativa comprometeu-se com a súbita morte de Neto. Santos, sem a autoridade e o prestígio do seu antecessor, e por isso mais exposto aos interesses soviéticos, que em nome das suas estratégias expansionistas e comerciais apostavam na continuação do conflito, nem sequer tentou dar-lhe continuidade.

Outra revelação é a de que o general João de Matos, agindo claramente à revelia da superestrutura do regime, tentou evitar que o conflito viesse a ter o desfecho que parecia estar traçado – a morte do Savimbi. João de Matos fora pouco tempo antes afastado do cargo de CEMGFAA, por ser visto como um empecilho a tal desfecho em meios influentes do regime. Preferia uma solução política.

Enviar um comentário

0 Comentários