No passado dia 18 de Janeiro completou-se mais um ano desde que o fio da vida de Ricardo de Mello (jornalista, director, fundador e proprietário do «Imparcial Fax») foi abruptamente cortado.
Foi na noite de 18 de Janeiro de
1995 que homens até hoje não identificados decidiram (sem vacilar) cortar fria
e firmemente o fio da vida de um jornalista de 38 anos de idade que se
preocupava simplesmente com a dignidade de Angola, acreditava normalmente na
sua missão e confiava exageradamente na pretensa democracia pós-91: Fernando
Ricardo de Mello Esteves!
O assassinato do director do «Imparcial Fax», que teve como cenário um dos prédios situados na antiga rua Direita de Luanda, foi uma infeliz tragédia que revelou que ainda há pessoas em Angola que descem (e continuam a fazê-lo) tão baixo, ao ponto de manifestarem a sua discordância matando e que não aprenderam a discordar sem serem violentamente discordantes.
Ricardo de Mello incomodou, Ricardo
de Mello desapareceu! Foi há 29 anos. Há políticos que querem que o nome do
fundador e director do «Imparcial Fax», Ricardo de Mello, não mais seja
invocado.
Contudo, quem for honesto, há-de
convir que o pioneiro da imprensa privada em Angola, que está a passar por maus
bocados, diga-se, foi um jornalista destemido, indomável e corajoso. Foi depois
da sua morte que o panorama da Imprensa angolana passou a ser diferente. Disso
devem lembrar-se os jornalistas angolanos e não só.
Ricardo de Mello incomodou, Ricardo
de Mello desapareceu! Foi há 29 anos. A Direcção Nacional de Investigação
Criminal, à época dirigida por Eduardo Sambo, jamais se preocupou
verdadeiramente em deslindar o caso.
O jornalista foi extinto, afastado
do nosso seio para sempre, mandado para
o «país das cem ervas». Há quem considere que o devemos rebaixar, que devemos
fugir até da presença da sua memória, que o excluamos da História dos nossos
turbulentos tempos.
Ricardo de Mello incomodou, Ricardo
de Mello desapareceu! Foi há 29 anos. Há jornalistas (?) angolanos e
estrangeiros que tapam os ouvidos quando o nome do então director do «Imparcial
Fax» é invocado. Todavia, querendo ou não, tem de se admitir que Ricardo de
Mello foi vítima de um sacrifício que abriu caminho para a existência dos
semanários (à excepção do então “Comércio Actualidade” e do “Correio da
Semana”) que hoje são editados e publicados na capital do País.
Ricardo de Mello incomodou, Ricardo
de Mello desapareceu! Foi há 29 anos. Cuidemos, pois, de nunca esquecer que a
sorte de todos pode estar em jogo. Alguém conhece por aí o nome do próximo
«Ricardo de Mello» em potencial? Seja ele quem for, e pode ser qualquer um de
nós, tem direito à vida.
Que disso se lembrem os que apertam
o gatilho ou, e sobretudo, os que mandam apertar o gatilho.
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