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Arte que está a sustentar muitas famílias em Caxito

A proliferação de barbearias e salões de beleza na vila de Caxito, província do Bengo, não surge por acaso. Os donos destes estabelecimentos viram na arte de barbear e arranjar cabelo feminino, bem como no tratamento e aplicação de unhas, uma fonte sustentável de rendimento para as suas famílias

Nos últimos tempos, nota-se que a cada dia que passa surge uma nova barbearia e um salão de beleza em cada esquina de Caxito, cujos donos são jovens, na sua maioria, que procuram formalizar o emprego e ganhar algum dinheiro.

Nos recintos são encontrados jovens de quase todas as idades, uns profissionais e outros ainda na condição de aprendizes da arte que se está a tornar muito popular na vila e arredores por ser barata e fácil de aprender.

Em pouco mais de uma semana, qualquer jovem dedicado está apto para exercer a profissão e tornar rentável a ocupação, mesmo com a concorrência que se verifica com o surgimento de mais barbearias e salões de beleza.

Aliás, é a concorrência que faz com que estes profissionais aprimorem os seus conhecimentos na arte, cientes da responsabilidade que carregam de dar "um outro visual” aos clientes, tanto homens como mulheres.

Porém, estes serviços não se limitam ao corte de cabelo e à aplicação de cabelo postiço. Também oferecem outros serviços como manicure e pedicure (tratamento de unhas das mãos e dos pés), arranjo da barba e limpeza do rosto.

O jovem José Zua anda na arte há mais de cinco anos e tornou-se famoso numa das barbearias mais procuradas da vila, a Anil. Faz cortes de todo o tipo, inclusive o denominado "Dois Tempos”. "Este é que está na moda, meu kota, quase todo jovem procura este tipo de corte”, afirmou o profissional, que abraçou a arte depois de concluir o ensino médio.

A barbearia funciona numa esquina privilegiada, o que facilita a procura dos seus serviços. Ele recebe muitas solicitações quase todos os dias.

No dizer dos clientes, o jovem não deixa os créditos em mãos alheias "porque reconhece a forte concorrência que existe entre eles”.

Cada corte para os mais novos custa 500 kwanzas e para os adultos tem de 700 e mil kwanzas. José Zua faz vários estilos de corte: "Francês”, "Parker”, "Macruel”, "Freestyle” e outros.

"Aqui o profissional tem que ser paciente com os clientes, além de ter habilidades com o pente e a lâmina”, referiu o barbeiro, que divide o espaço com outro jovem que trata das unhas, ao mesmo tempo que decorre a formação de uma menina na mesma arte.

De acordo com o barbeiro, o seu trabalho o tem ajudado muito, proporcionando-lhe bons rendimentos, isto apesar da concorrência que aumenta a cada dia. "Dá para sobreviver e sustentar a família”, contou o jovem, também conhecido por "Cudy”.

Com os seus rendimentos,  conseguiu construir em  Caxito uma residênciaT2, tirar a licença de condução de viaturas e concluir o ensino médio.

Barbearia AD

Num outro local, encontramos a Barbearia AD, pertencente ao jovem empreendedor no ramo da estética e beleza Adão Pedro. Tal como os outros, começou a exercer o ofício em casa, sem cobrar nada. Isto ainda em 2014.

Adão Pedro conta que ante a necessidade de prosseguir os estudos, decidiu valorizar mais a profissão que hoje considera importante para sustentar a sua formação e pagar o salário aos seus colaboradores.

Com os rendimentos da sua profissão, conseguiu a carta de condução e formou-se em Pedagogia na Escola Superior Pedagógica do Bengo "ESB-Bengo”. Tem cinco colaboradores, que fazem de tudo para manter a barbearia a funcionar, prestando um serviço de qualidade.

"Temos maiores rendimentos quando os trabalhadores, tanto da função pública como das instituições privadas, recebem os seus ordenados”, disse.

Adão Pedro já pensa abrir mais uma barbearia nas redondezas, com o objectivo de expandir o negócio.

"Quando comecei, Caxito tinha apenas três barbearias, agora são muitas. E para nos mantermos, é necessário apresentarmos trabalho de qualidade. Os meus colaboradores tudo têm feito para estarem em alta com a inovação nos cortes”, fez saber.

Agulhas e linhas

Encontrámos a cabeleireira Diana António no seu recinto de trabalho, com linhas e agulhas nas mãos. Estava a aplicar o famoso "cabelo brasileiro” a uma jovem.O seu salão fica num local privilegiado da vila. "Só isso já me dá vantagem em termos de concorrência”, frisou."Estar no mundo da beleza há cerca de 19 anos e aos 29 anos é obra, não é?”, perguntou retoricamente aos repórteres.

Diana António aprendeu a arte de trançar e aplicar cabelo humano com apenas 13 anos de idade, em Luanda.Ao deixar a capital, em 2019, rumou para a província do Bengo, propriamente em Caxito, onde abriu o seu salão de beleza em 2021, com ajuda da cunhada Maura.  Hoje conta com uma colaboradora que a ajuda muito. De acordo com ela, o salão está a corresponder à demanda, principalmente às sextas-feiras, dia de maior movimento.

Quanto à concorrência, Diana António ou simplesmente "Tia Di”, como é conhecida no mundo da arte da beleza, diz que é muita e obriga todos os dias a fazer trabalho com qualidade, para que as clientes possam sempre solicitar os seus serviços.

Segundo Tia Di, com o seu trabalho pagou os estudos até ao ensino médio, além de  outras despesas.

Revelou que o que a levou a abrir o salão de beleza foi a valorização que deu à arte de "trançar”, deixando de concorrer em concursos públicos em busca de emprego para dedicar-se ao trabalho por conta própria.

"Vai continuar a ser o meu ganha-pão diário. Não pretendo largar, necessito consolidar este salão para posteriormente abrir um outro. Quero ser grande empreendedora neste sector e garantir emprego a outros jovens”, disse, garantindo que já conseguiu formar um total de 30 jovens.

No salão, faz-se penteados "Pipoca”, "Bigodinho”, "Corte de Cabelo”, "Quadradinho” e "Personalização”, cujos preços variam de 2.500 a 7 mil kwanzas.

Tia Di apelou aos demais jovens, no sentido de investirem no autoemprego e "deixarem de esperar pelos concursos públicos”.

Unhas, parte da beleza

Mas não é só com o corte de cabelo, nem tão pouco com a aplicação de tissagem ou cabelo brasileiro que se levanta a auto estima de homens ou mulheres. Também o tratamento das unhas, tanto das mãos como dos pés, faz parte da beleza pessoal. Por este motivo, muitos jovens rapazes abraçaram, também, a arte de cuidar das unhas. Um deles é João Mpambala, que considerou ser um privilégio trabalhar no ramo, considerando que com o que faz ajuda muitas pessoas a sentirem-se bem na vida.

Mas já pensa em abrir o seu próprio espaço, porque, por enquanto,trabalha no salão de beleza da Tia Di. Os materiais para o tratamento das unhas são a lima, o corta-unhas, o álcool, a base, o verniz e o creme para facilitar a remoção do lixo. João Mpambala apelou, igualmente, aos jovens "que não têm nenhuma ocupação”, no sentido de "procurarem fazer alguma coisa”, a começar por obterem uma formação básica para alcançarem os seus sonhos.

Clientes satisfeitos

O cliente Mauro Oliveira disse que está a ficar famoso  com o corte Dois Tempos, cheio, feito na barbearia do Cudy.

"Sempre corto o cabelo na barbearia do Cudy porque ele é excelente e os preços são acessíveis. Caso o cliente não tenha valor na hora, pode pagar mais tarde, quando tiver”, reconheceu Mauro Oliveira.

"Estou bonito!”, gritou outro cliente, Costa Nunes, depois de cortar o cabelo à Pack na barbearia AD, acrescentando que neste recinto "entra-se feio e sai-se realmente bonito e com direito a ser postado nos cartazes do mês”.

Sublinhou que não corta cabelo noutra barbearia que não seja a do AD, "para não sair ingrato, uma vez que os colaboradores são muito atenciosos”.

Já a jovem Marina Leite, que trata o cabelo no salão da Diana, considerou que a Tia Di faz magia e as suas aplicações são maravilhosas."Neste momento estão a aplicar-me o cabelo brasileiro e depois vou tratar das unhas”, disse.

Quanto aos preços considerou-os acessíveis. Para ela, ficar linda não é só uma questão de vaidade mas, sobretudo, de autoestima.

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