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Sindicato de Benguela exige investigação sobre morte de trabalhador da Lobito Atlantic Railway e denuncia discriminação laboral

O Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes, Telecomunicações e Afins de Benguela endereçou uma carta aberta ao Ministério dos Transportes e ao Serviço de Investigação Criminal (SIC), exigindo a abertura de uma investigação sobre a morte de Donico Santos, técnico de apoio do Centro de Controlo de Operações da empresa Lobito Atlantic Railway (LAR), ocorrida no dia 28 de Setembro de 2025, em consequência de um AVC isquémico no local de trabalho.

De acordo com o sindicato, os superiores hierárquicos de Donico Santos estavam cientes do seu estado de saúde — marcado por hipertensão —, mas teriam ignorado sinais de alerta, não prestando o devido apoio preventivo. O caso é descrito como o segundo episódio fatal no mesmo departamento. O primeiro envolveu um funcionário identificado como Catumbela, que, segundo os sindicalistas, foi obrigado a viajar doente para a província do Moxico por ordem de um superior.

A carta, datada de 7 de Outubro de 2025, denuncia ainda um ambiente de discriminação e assédio moral no seio da LAR, alegadamente protagonizado por dirigentes expatriados em detrimento dos trabalhadores angolanos.

O documento cita especificamente o nome do gerente brasileiro Tiago Conte, acusado de “comportamentos abusivos, ofensivos e discriminatórios”. Uma semana antes da morte de Donico Santos, Conte teria afirmado que “enquanto estiver no poder, nenhum angolano terá direito a aumento salarial”, segundo testemunhos internos.

O sindicato também denuncia a promoção controversa de Rodrigo Braga, cidadão brasileiro de 29 anos, ao cargo de supervisor do Centro de Controlo de Operações. O jovem, recém-chegado ao país e indicado pelo próprio Tiago Conte, seria inexperiente no funcionamento do Corredor do Lobito, mas mesmo assim ocupa um cargo de chefia. “A cultura é de vocês fora do gabinete, mas dentro será a minha cultura brasileira”, teria dito Braga a colegas, num comentário considerado ofensivo e revelador de postura arrogante.

O texto aponta ainda omissão do director de Transportes e Operações da LAR, António Custódio, de nacionalidade portuguesa, acusado de fechar os olhos aos abusos de seus subordinados. Custódio é retratado como “distante e autoritário”, alegadamente evitando o contacto com trabalhadores das regiões centro e leste do país e tomando decisões sem avaliação presencial, como a exoneração do chefe da estação do Cuemba.

Os sindicalistas pedem ao Ministério dos Transportes e ao SIC que apurem responsabilidades pela morte de Donico Santos e investiguem as alegações de negligência, assédio moral, discriminação e racismo institucional dentro da Lobito Atlantic Railway.

Entre as medidas propostas, o sindicato defende
• A abertura de um inquérito sobre a morte de Donico Santos;
• A avaliação da conduta dos expatriados Tiago Conte e Rodrigo Braga;
• A revisão dos critérios de promoção dentro da LAR;
• A fiscalização da gestão de António Custódio;
• E a implementação de políticas de valorização profissional e saúde mental dos trabalhadores.

“Esta carta representa a voz de vários trabalhadores que partilham da mesma preocupação e esperam ações concretas das autoridades”, conclui o documento, apelando ao diálogo, ao respeito e ao cumprimento da lei como pilares para uma sociedade mais justa e humana.

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