Num contexto em que a taxa de desemprego em Angola ronda os 30%, e em que mais de 3 milhões de jovens enfrentam diariamente a dura realidade de não terem emprego, o lançamento do Projecto Crescer representa uma lufada de esperança e um passo firme rumo a uma Angola mais produtiva, inclusiva e economicamente diversificada.
Esta iniciativa governamental, em parceria com o BAD e a União Europeia,
arranca com um fundo disponível de 124,6 milhões de dólares, para o
financiamento de projectos da juventude angolana. Prevê a criação de 37.430
empregos directos e cerca de 112.290 indirectos, um número que, por si só, já é
um sinal encorajador. Num país em que o desemprego jovem é um dos maiores
desafios económicos e sociais, o Projecto Crescer surge como uma política
pública pragmática e estruturante, capaz de transformar o potencial humano em
motor de desenvolvimento nacional.
Esta iniciativa do Executivo merece nota positiva por diversas razões. Em
primeiro lugar, ela demonstra que o Governo está atento à necessidade urgente
de aproveitar a força de trabalho jovem – que é numerosa, dinâmica e criativa –
para promover a produtividade nacional e reduzir a dependência do sector
petrolífero.
Ao criar oportunidades reais de emprego e autoemprego, o Projecto Crescer
vai além da simples geração de postos de trabalho: ele estimula o
empreendedorismo juvenil, impulsiona pequenas e médias empresas e dinamiza a
economia local em várias províncias do país. Trata-se de uma medida com impacto
multiplicador, que pode inspirar confiança e esperança numa geração que há
muito tempo clama por oportunidades.
A criação de dezenas de milhares de empregos directos e indirectos não é
apenas uma questão de estatística. É uma injeção de energia produtiva na
economia angolana. Cada jovem que encontra um emprego digno ou inicia um
pequeno negócio representa um potencial contribuinte, um consumidor activo e um
agente de transformação social.
Com mais jovens empregados, o país ganha em estabilidade social, reduz o
risco de delinquência juvenil e mitiga tensões sociais que têm resultado em
manifestações e actos de vandalismo, como a que se verificou recentemente em
Luanda e noutras províncias. A inclusão produtiva da juventude é, portanto,
também uma questão de segurança e coesão nacional.
Além disso, o Projecto Crescer pode estimular a diversificação económica,
ao apoiar iniciativas em sectores estratégicos como agricultura, pescas,
indústria transformadora, tecnologias de informação, turismo e economia verde —
áreas com grande capacidade de absorver mão de obra e gerar valor acrescentado
nacional.
Para os jovens angolanos desempregados, o Projecto Crescer representa uma
porta aberta para o futuro. O acesso a financiamento, formação técnica e
empresarial, e apoio na estruturação de negócios permitirá que muitos possam
finalmente transformar as suas ideias em projectos concretos e sustentáveis.
É essencial, contudo, que os próprios jovens se preparem, apresentem
propostas sólidas, viáveis e inovadoras, e aproveitem os mecanismos de apoio
que o Governo está a disponibilizar. Com orientação, disciplina e visão, esta
geração pode ser protagonista da nova Angola produtiva e empreendedora que o
país tanto precisa.
Apesar do mérito do Projecto Crescer, é necessário que esta iniciativa não
seja um caso isolado, mas o início de uma nova política nacional de promoção do
emprego e do empreendedorismo. O Governo Angolano deve ampliar programas
semelhantes em áreas estratégicas como agroindústria e produção alimentar, para
garantir segurança alimentar e reduzir importações; economia digital, criando startups
tecnológicas e empregos ligados à inovação; energias renováveis, para responder
à transição energética global; construção civil e habitação social, turismo,
absorvendo mão de obra de baixa e média qualificação; e economia criativa e
cultural, valorizando o talento jovem nas artes, música, moda e design.
Com políticas integradas e contínuas, Angola poderá reduzir
progressivamente a taxa de desemprego, que atinge mais de 5 milhões de cidadãos
sem emprego, e transformar o desemprego num desafio vencido com trabalho,
criatividade e inclusão.
O Projecto Crescer é mais do que uma medida de política pública: é um sinal
de esperança. Representa o compromisso do Governo em apostar nas pessoas,
sobretudo nos jovens, como o activo mais importante para o futuro de Angola.
Se for bem implementado, com transparência, meritocracia e acompanhamento
técnico eficaz, poderá marcar o início de uma nova era de prosperidade
partilhada e estabilidade social. O desafio agora é garantir que o “crescer” do
nome do projecto se traduza num crescimento real — de oportunidades, de
dignidade e de desenvolvimento para todos os angolanos.
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