A recente aprovação do novo Regime Disciplinar da Polícia Nacional de Angola está a suscitar preocupações entre alguns membros da corporação, que, sob anonimato, alertam para o que consideram uma “incoerência” entre o reforço das normas disciplinares e a ausência de melhorias nas condições de trabalho e de vida dos efetivos.
O documento, aprovado com o objetivo de reforçar a disciplina, a
responsabilidade e o profissionalismo dentro da instituição policial, é visto
oficialmente como uma medida necessária para garantir a integridade e a eficiência
do corpo policial. No entanto, fontes internas defendem que a disciplina “não
pode ser exigida apenas com base em punições”, mas deve estar sustentada em
condições dignas e motivadoras.
“Não há disciplina que resista onde há carência, desmotivação e injustiça
social”, lê-se num texto remetido ao Club-K por um grupo de agentes que
preferiu manter o anonimato.
Segundo o documento, muitos efetivos enfrentam longos turnos sem
alimentação adequada, salários insuficientes e falta de equipamentos básicos para
garantir a própria segurança. “Por trás do fardamento há seres humanos com
famílias, sonhos e angústias”, destacam os subscritores, acrescentando que “é
incoerente reformar a disciplina sem reformar as condições que geram o desânimo
e o erro”.
O novo regime prevê mecanismos de mérito e distinção, medida considerada
positiva, mas que, segundo as mesmas fontes, “só será legítima se existirem
oportunidades reais de ascensão e reconhecimento dentro da corporação”.
Os denunciantes sustentam ainda que a verdadeira disciplina “não nasce do
medo de punição, mas da valorização de quem serve”. Defendem que o Estado deve
investir em melhores salários, habitação condigna, acesso à saúde, formação
contínua e reconhecimento profissional, como base para um serviço policial mais
ético e eficaz.
“A disciplina sem humanidade gera medo; a disciplina com justiça gera
respeito”, sublinha o texto.
O grupo conclui que o novo regime disciplinar apenas representará um marco
de progresso “se for acompanhado de uma reforma moral e social mais ampla”, que
devolva ao agente da ordem “o sentido de orgulho e pertença à instituição que
jurou servir”.
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