O coordenador da Comissão Instaladora da Acção pelo Reforço da Democratização em Angola (ARDA), Teka Ntu, defende que a língua não deve ser um obstáculo para quem quer participar na vida política do país. “A língua aprende-se. Não pode ser uma barreira para a vida de um ser humano.
A ARDA tenta, há sete anos, obter o reconhecimento do
Tribunal Constitucional como partido político, mas até ao momento não teve
sucesso. Teka Ntu diz acreditar que, desta vez, “o partido será legalizado”,
depois de o processo anterior ter sido travado supostamente pela pandemia da
Covid-19.
“Durante a Covid não podíamos viajar pelas províncias
para recolher assinaturas. Agora, com as portas abertas, acreditamos que o
Tribunal vai credenciar a nossa comissão instaladora”, explicou o político.
Antigo militante da UNITA, CASA-CE, MPLA e APN, Teka
Ntu rejeita o rótulo de “instável” e diz que a sua trajectória é sinal de
patriotismo. “Sou um jogador que passou por vários clubes, mas o meu amor é Angola”,
afirmou.
Para o político, as suas passagens por diferentes
partidos deram-lhe “melhor conhecimento da política nacional”. “Conheço as
táticas de todos os jogadores. Isso faz de mim um político mais preparado”,
garantiu.
Questionado sobre o que distingue a ARDA dos demais
partidos, respondeu que o diferencial está na consciencialização dos
militantes. “A nossa base é formada por angolanos na diáspora, mais conscientes
e com espírito patriótico”, sublinhou.
Segundo Teka Ntu, a oposição angolana tem falhado por
limitar-se à crítica. “A maioria é apenas espectadora. Não apresenta projectos
para o desenvolvimento”, criticou, acrescentando que o seu movimento quer
“participar nas soluções, e não só apontar erros”.
O dirigente destacou ainda o papel da diáspora na
construção de Angola. “Sem a diáspora, a independência não teria sido possível.
Foram os angolanos no exterior que lutaram para libertar o país”, recordou.
Para ele, o governo deve “abrir as portas” e
aproveitar o potencial dos quadros que vivem fora do país. “A exclusão da
diáspora é um erro grave. Há muitos angolanos preparados que podem ajudar o
país a crescer”, defendeu.
Sobre as críticas do veterano político Makuta Nkondo,
que considera que muitos partidos fundados por cidadãos de origem bakongo têm
fins comerciais, Teka Ntu respondeu com respeito, mas firmeza. “O velho Makuta
merece respeito, mas as suas ideias são do tempo da FNLA. A política hoje tem
outra velocidade”, afirmou.
Questionado sobre a sua fluência linguística, o líder
da ARDA foi peremptório: “A língua portuguesa é dos Tuga de Portugal. O
angolano deve valorizar o quimbundo, o umbundo, o kicongo”. E acrescentou: “O
que conta na política são as boas ideias, não a pronúncia”.
Teka Ntu diz viver actualmente em Angola e nega que a
sua ligação à diáspora impeça a sua actuação política. “Estou em Angola há mais
de dez anos. Trabalhei na Sonef, na Ender e na Alstom. Esta entrevista é feita
da minha casa, aqui mesmo”, esclareceu.
Comparando Angola e Alemanha, o político afirma que
são “dois mundos diferentes”. “Na Alemanha, um crítico do governo é visto como
colaborador. Aqui, é visto como inimigo”, lamentou, citando o caso do activista
Francisco Teixeira como exemplo.
O coordenador da ARDA rejeita a ideia de que a
alternância de poder, por si só, resolverá os problemas do país. “Tirar o MPLA
não é a solução. O que Angola precisa são dirigentes conscientes e capazes”,
afirmou.
Apesar de se posicionar como uma nova força, Teka Ntu
reconhece mérito em alguns partidos da oposição. “Nunca vi um líder tão
entregue à causa de Angola como Adalberto Costa Júnior. É um animal político”,
elogiou.
Para o futuro, o dirigente diz que continuará a lutar
pela legalização da ARDA e pela inclusão de todos os angolanos, dentro e fora
do país. “A minha prioridade é Angola, não as etiquetas partidárias”, concluiu.
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