O mundo está em contagem regressiva para uma das transformações mais profundas da história económica: a transição energética global rumo ao carbono zero até 2050. A meta é clara: reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, reposicionando o petróleo no sistema energético mundial para um papel secundário. Para Angola, cujo orçamento público depende em mais de 50% das receitas do sector petrolífero, este desafio representa uma verdadeira corrida contra o tempo.
Actualmente, as reservas comprovadas de petróleo de Angola são estimadas em cerca de 7,5 mil milhões de barris. Com uma produção média de 1 milhão de barris/dia, estas reservas garantiriam cerca de 20 a 21 anos de exploração, se não houver novas descobertas significativas. Isso significa que, até 2045, poderemos ter consumido a maior parte das nossas reservas, justamente no período em que o mundo reduzirá gradualmente a procura de petróleo, em cumprimento da meta global de carbono zero.
O dilema é estratégico: ou aproveitamos ao máximo esta janela de oportunidade – cerca de 25 anos – para maximizar a produção, atrair investimentos, gerar receitas e transformá-las em diversificação económica, ou corremos o risco de ver o petróleo perder relevância antes que consigamos construir um novo motor de crescimento.
Nos últimos anos, a produção petrolífera de Angola tem vindo a declinar. Entre 2008 e 2010 chegámos a produzir cerca de 1,8 milhão de barris/dia; hoje, estamos na casa de 1 milhão de barris/dia. Este declínio ameaça não apenas as receitas fiscais, mas também a posição estratégica de Angola como um dos principais players de petróleo em África. Para reverter este cenário, o Governo precisa intensificar políticas de atração de investimento estrangeiro, acelerar os leilões de concessões petrolíferas, reduzir barreiras burocráticas e melhorar o ambiente regulatório. Cada barril adicional produzido antes de 2050 representará mais receitas fiscais, mais divisas para estabilizar o Kwanza e mais recursos para financiar a tão necessária diversificação económica.
O petróleo deve ser encarado como um instrumento transitório, e não como um fim em si mesmo. As receitas geradas precisam ser canalizadas de forma inteligente para sectores que criarão a economia do futuro. As prioridades estratégicas para Angola deveriam incluir agricultura e agroindústria, garantindo a autossuficiência alimentar e transformando Angola num exportador de produtos agrícolas e agroindustriais; energia renovável, investindo em energia solar, hídrica e eólica para garantir uma matriz energética sustentável e competitiva; indústria transformadora, desenvolvendo cadeias de valor que processem recursos locais como minerais, pescado e madeira, para gerar empregos e reduzir a dependência de importações; tecnologia e economia digital, criando hubs de inovação e startups para inserir Angola na economia do conhecimento; turismo sustentável, explorando o potencial turístico das 21 províncias e criando empregos e receitas não petrolíferas; e educação e capacitação, investindo massivamente em educação técnica e superior para preparar uma força de trabalho qualificada para a economia diversificada.
Se estas áreas forem priorizadas e receberem investimentos consistentes, até 2050 Angola poderá ter uma economia robusta, menos dependente de recursos naturais, e estar entre as cinco maiores economias africanas, sustentando uma população que deverá superar os 50 milhões de habitantes.
A transição energética global é inevitável. O tempo para agir é agora. Cada
ano perdido é uma oportunidade desperdiçada. Angola precisa de um plano
estratégico nacional que ligue o investimento no petróleo e gás ao
financiamento da diversificação económica. O futuro de Angola não pode ser
refém da queda do preço do barril ou da diminuição da procura mundial de
petróleo. A nossa geração tem a responsabilidade histórica de usar a riqueza
petrolífera restante para construir um país diversificado, resiliente e
próspero. O relógio está a contar. 2050 está à porta. E o futuro de Angola
depende das decisões que tomarmos hoje.
0 Comentários