Gelson Quintas "Man Genas" reiterou hoje em tribunal o envolvimento da polícia angolana no tráfico de drogas, num julgamento em que é acusado de calúnia e difamação.
"Man Genas", que ficou conhecido por denunciar nas redes sociais
o suposto envolvimento de autoridades no tráfico de drogas em Angola, começou
hoje a ser julgado no Tribunal da Comarca de Luanda, acusado dos crimes de
calúnia e difamação, em coautoria com Clemência Vumbi, sua mulher.
A acusação particular referiu que o ofendido é o general Eugénio Laborinho,
que à data dos factos era o ministro do Interior, e que o arguido "é
meliante de elevada categoria", tendo feito parte no passado de uma fação
criminosa, que atuava em Luanda, responsável por vários crimes, como assaltos à
mão armada, roubos violentos de viaturas e tráfico de drogas.
Questionado pelo juiz sobre a razão pela qual acusou Eugénio Laborinho de
estar envolvido no tráfico de drogas, Man Genas respondeu que se deveu ao facto
do então governante ter rejeitado as denúncias e porque logo depois foi sido
alvo de uma tentativa de homicídio.
Segundo a acusação, Eugénio Laborinho "nunca conheceu em momento algum os arguidos, nunca interagiu com os mesmos", um facto confirmado pelo denunciante no momento do seu interrogatório.
"Esse facto, remetidos na lógica e na ciência, deixa claro que os arguidos premeditaram os crimes, antes organizaram-se, municiaram-se com sofisticados meios de disseminação em massa, das cenas das calúnias, injúrias e difamação que fizeram reiteradas vezes contra o ofendido e lesado", referiu o assistente do lesado.
O caso de "Man Genas"
Os factos remontam ao ano de 2022, altura em que, de acordo com a acusação,
"os acusados decidiram atacar (...) todos os dias, a imagem, a honra, o
bom nome e a reputação do ofendido, chamando e acusando-o com as mais feias
palavras ou adjetivos, de que o ofendido é uma pessoa de mal, é um criminoso,
que na companhia do comissário de investigação criminal, Fernando Receado,
ex-diretor-geral adjunto do Serviço de Investigação Criminal, são traficantes,
são os barões do tráfico de drogas em Angola".
Ainda de acordo com a acusação, os arguidos fizeram ameaças contra o ofendido, instigaram outras pessoas a mobilizarem-se e a "invadirem a casa do ofendido e lesado", tendo esses crimes sido cometidos com maior incidência em dezembro de 2022, a partir de Maputo, capital de Moçambique, onde "os arguidos estabeleceram o seu bastião para a continuidade do cometimento dos crimes".
Em 2024, "Man Genas" e a sua família foram deportados de Moçambique,
para onde havia se refugiado, para Angola, encontrando-se detido desde então.
A acusação sublinhou que os factos descritos prejudicaram a imagem do lesado
nos órgãos militares e no partido político, MPLA, do qual é membro, tendo
"os estragos reputacionais, por meio das cenas de calúnias, atingido
dimensões alarmantes", apesar de as acusações "não fazerem nenhum
sentido verdadeiro, lógico, nem cronológico".
Pedido de indemnização
A acusação solicita maior investigação e uma "responsabilização mais
profunda e abrangente", defendendo que campanha de disseminação das
calúnias contra Eugénio Laborinho "contou com a cumplicidade de alguns
agentes ou altos funcionários de outros órgãos castrenses do Estado".
Pelos danos morais "não contabilizados ainda" a acusação pede uma
pena de oito anos de prisão efetiva para cada um dos arguidos e uma
indemnização de 5,5 milhões de kwanzas (pouco mais de 5.000 euros) para cada um
dos arguidos.
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