Muito sinceramente, considero que o MPLA cometeu o seu maior erro político ao escolher João Lourenço como Presidente da República. A forma como o chefe de Estado enxerga e conduz os destinos da nação é antiquada, anacrónica e, por vezes, politicamente insensata. João Lourenço poderia ser tudo, menos presidente de Angola — e basta lembrar que, em 2019, por sua iniciativa, foi criado um verdadeiro “Plano de Combate até à Exaustão” contra Adalberto Costa Júnior. Ao mesmo tempo, perseguiu pessoas ligadas a José Eduardo dos Santos e abriu múltiplas frentes de conflito político, revelando mais aptidão para a intriga do que para a governação.
A história da filosofia política sempre advertiu sobre as qualidades que um governante deveria ter. Platão, em A República, descreve o governante ideal como um filósofo-rei, guiado pela prudência, pela justiça e pela busca do bem comum.
Aristóteles, na Política, reforça que o líder deve ter virtude, moderação e a capacidade de governar para o interesse coletivo, e não para facções ou interesses pessoais. São Tomás de Aquino, na Suma Teológica, defende que o governante deve ser justo, prudente e guiado pela lei natural para assegurar a paz e o bem-estar do povo. Medidos por estes padrões clássicos, João Lourenço falha de forma evidente.
A notícia divulgada pelo Club K, de que, na última reunião do Conselho Presidencial, o Presidente exibiu vídeos descontextualizados para culpar a UNITA pela revolta popular, representa uma afronta à inteligência e à dignidade do povo angolano. Um povo faminto e injustiçado não precisa de depender da oposição para manifestar a sua revolta. Ao subir o preço dos combustíveis sem um plano social de mitigação, João Lourenço foi inconsequente. O resultado foi previsível: protestos massivos no final de julho, impulsionados não por partidos políticos, mas pelo desespero social.
Enquanto o Presidente e as forças de defesa e segurança do Estado se recusarem a fazer um diagnóstico sério e honesto sobre as causas estruturais da insatisfação popular — desemprego, pobreza, exclusão social e desigualdade —, Angola continuará desnorteada e acéfala. Não é por acaso que se questiona a legitimidade política do actual governo. João Lourenço chegou ao poder em processos eleitorais marcados por denúncias de fraude e, desde então, não construiu uma relação de confiança com o povo; ao contrário, ergueu barreiras de autoritarismo e distanciamento.
Resta-lhe pouco tempo para fazer algo que possa ser lembrado como legado. Caso
insista em “puxar a carroça pela frente dos bois”, como tem feito, o seu
destino político poderá ser mais trágico que o do seu antecessor. Afinal, como
já dizia Aristóteles, “o tirano teme mais os seus súditos do que os inimigos
externos” — e a história ensina que nenhum regime ilegítimo se mantém
indefinidamente.
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