No quadro das homenagens a figuras que se destacaram nos 50 anos da nossa Independência, lembrei-me de alguns empresários do Planalto Central. Nos anos do pós-independência, foram eles que dinamizaram o comercio de bens e serviços nas cidades e vilas daquela região.
Quando a paz de Bicesse chegou, em 1991, conheci vários empresários de
sucesso, entre eles: Kalinone, Elias Kalumenhe, Mbakassy, Ndumbo, Síssimo,
Vinevala, Sikola, Diogocheia, Mbindjy e Faustino Amões (mais conhecido por
Wapossoka, em função da sua firma Wapossoka & Nambula, Lda.). A esses chamo
de verdadeiros empresários. Não eram políticos, nem governantes. Muitos não
herdaram riquezas. Começaram do zero. Como se diz: “grão a grão, a galinha
enche o papo.” Os que herdaram, em vez de gastarem com luxos, empreenderam.
Criaram várias empresas e deram emprego de qualidade a centenas de angolanos.
Eram verdadeiros patriotas. Homens de negócios preocupados com o crescimento
económico do país.
Nos anos de 1991 e 1992 quem não falava de Wapossoka? No Lobito, por
exemplo, um dos seus empreendimentos de sucesso foi a discoteca Os Caçadores,
localizada no Bairro Vinte e Oito, à entrada da ponte Carmona e a poucos metros
do Hotel Grão Tosco. Era uma discoteca moderna, apenas comparável, à época, com
uma ou duas de Luanda. Assim se dizia!
Tínhamos o hábito de frequentar Os Caçadores. Estávamos quase sempre lá aos
fins-de-semana, mesmo que fosse só para beber apenas um sumo natural com
palhinha. Fazíamos economias ao longo da semana para pagar a entrada, beber uma
limonada com gelo e dançar, mas sem maldade, a dança da moda, o slow, entre o
fumo artificial e o jogo de luzes coloridas, quase às escuras. (O tempo lá se
foi, e levou consigo tudo de bom que tínhamos.)
Verdade seja dita, Wapossoka, irmão mais velho de Valentim Amões, não ficou
famoso apenas pela discoteca. Tinha muitos outros empreendimentos notáveis.
Tornou-se, por mérito próprio, num símbolo de força e de empreendedorismo.
Quase trinta e dois anos depois, cruzei-me com ele no óbito da tia Judith
Pena. Não me contive: fiz questão de o saudar e de lhe exprimir a minha
admiração. Disse-lhe que éramos vizinhos no Kapango, no Huambo. O Massanga
Savimbi estava ao meu lado e ajudou-me com as recordações, relembrando as vezes
em que íamos a sua casa. Eu até já me tinha esquecido de algumas coisas.
Depois, lembrei-me de que, sempre que lá fôssemos, não saíamos de mãos a
abanar.
Na verdade, empresários como Faustino Amões são os que realmente ajudariam
a alavancar a nossa economia. Eles não brincam com os dinheiros. Aplicam
criteriosamente os recursos que lhes são colocados à disposição. Não compram
iates nem empresas falidas em Portugal. Investem em Angola. Foi o que
demonstraram até hoje. Têm experiência suficiente. Não actuam com ilusões. Com
meios próprios, construíram um império que, até onde sei, a guerra destruiu
grande parte.
Por isso digo, sem medo de errar, que, se realmente existe alguém a
homenagear pelos seus feitos nestes 50 anos de Independência, por tudo quanto
fez pelo desenvolvimento de Angola, esse alguém é o empresário Faustino Amões.
Ele é um dos melhores filhos do Planalto Central e de Angola.
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