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O MPLA e o Desafio da Renovação: Entre pressões internas e vozes nas ruas - Dom Cambiri

Vivemos um momento político em Angola que não pode ser ignorado. A crise económica, o aumento do custo de vida, e o descontentamento crescente da população colocam o país sob tensão. No meio desse cenário, o MPLA enfrenta talvez o seu maior teste de resistência e adaptação.

Entre rumores de possíveis candidatos à sucessão de João Manuel Gonçalves Lourenço, surgem os nomes de Manuel Homem, Adão de Almeida e Mara Quiosa. Um deles merecerá a “benção” do chefe. Em “contra-mão”, para além dos rumores dos nomes de Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” e Álvaro de Boavida Neto, surge a figura de Higino Lopes Carneiro, eduardista de gema e malquisto de JL. De resto, depois dos rumores, HC deu o peito às balas, tendo em primeiro lugar solicitado uma audiência com o presidente cessante e de seguida, num timing de poucas semanas anunciou a sua candidatura ao cargo de Presidente do MPLA, deixando a malta do Kremelin em alvoroço.

Para muitos, isto representa um sinal de maturidade democrática interna; para outros, é um prenúncio de divisão no seio do partido no poder.

Dentro deste quadro, o próximo congresso do MPLA ganha um peso enorme. O que está em jogo não é apenas quem lidera o partido, mas o rumo que Angola poderá seguir nos próximos anos. Continuar com João Lourenço ou uma personalidade da sua conveniência? Arriscar um novo rosto? Reformar as estruturas internas? Ou manter o status quo?

Se o MPLA quiser continuar a liderar, terá de ouvir. Ouvir o povo. Ouvir as vozes dentro do próprio partido. E acima de tudo, perceber que os tempos mudaram — e que as soluções de ontem talvez já não sirvam para os problemas de hoje.

O papel da oposição política

Ao mesmo tempo, a oposição, liderada pela UNITA, não perde tempo. Está cada vez mais presente nas ruas, nas redes sociais e no discurso dos jovens. Adalberto Costa Júnior tem estado a capitalizar a audiência e seus militantes, aproveitando bem as fragilidades do executivo de JL. Aponte-se como exemplo a sua performance no último “Economia 100 Makas” do jornalista, Economista e Professor Universitário Carlos Rosado de Carvalho.

Não menos importante neste cenário está o PRA-JA, apesar das incertezas e desconfianças que pairam na selva política adentro, sobre escusas alianças com o regime no poder.

Rumo ao Congresso

O congresso poderá ser palco de tensões entre continuidade e renovação.

A sucessão de João Lourenço, caso se confirme, poderá gerar reconfigurações de alianças internas, com impacto direto nas listas para as eleições. Nesta reconfiguração nomes como Isabel dos Santos deverão ser tidos e achados, uma vez que certamente HC não esteja a caminhar inocentemente e nem sozinho.

Cenário provável do desfecho do congresso

a) Um congresso altamente estratégico, possivelmente antecipado.

b) Tentativa de controlo e unidade forçada por parte da direção atual.
Eventual ascensão de figuras com perfil conciliador ou tecnocrático, se o partido optar por dar sinais de mudança sem romper com o sistema atual.

c) Eleição de HC, ruptura completa com sistema vigente, acentuação da fragilidade do executivo de JL, divergências entre o TPE e o novo inquilino do Kremelin e consequente demissão do governo de JL e convocação de eleições presidenciais antecipadas.

d) Não admissão da candidatura de HC ou não eleição, expulsão de HC e todos seus apoiantes pelo menos ao nível do CC, seguido de expurgação (não quero usar a expressão “purga interna”) de todos os militantes pró Higino.

e) Reforço da democracia interna e maior legitimidade para o MPLA governar e ganhar as eleições de 2027.

O povo está atento. E a História, como sempre, será o juiz.

PS: Todas as crises trazem consigo oportunidades de melhorias. Depende dos óculos que usamos para enxergar a crise.

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