O Executivo ou Governo, como queiram, deve reconsiderar com urgência a sua decisão de aumentar o preço do gasóleo. Embora eu seja, por princípio, contra subvenções estatais generalizadas, a sua retirada não pode ocorrer de forma isolada e desprovida de medidas compensatórias eficazes. É preciso que o Estado adopte políticas integradas que mitiguem os impactos negativos desta decisão, sobretudo nas áreas mais sensíveis da vida social.
É inadmissível, por exemplo, que até hoje o governo não tenha conseguido
explicar o aumento das tarifas de táxi colectivo urbano, especialmente quando
se sabe que a maioria dos "azuis e brancos" opera com gasolina — e
esta não sofreu qualquer reajuste. Pior ainda é a ausência de fiscalização que
permita corrigir abusos e garantir rotas minimamente justas, com distâncias
superiores a 25 km, que justifiquem um preço mais elevado.
Se a retirada das subvenções é inevitável, então que os recursos poupados
sejam canalizados para a actualização salarial e a valorização das pensões de
reforma. Isso seria, no mínimo, uma resposta sensata à inflação galopante que
já se faz sentir. Afinal, o aumento do gasóleo teve impacto direto nos custos
operacionais dos transportes interprovinciais de pessoas e mercadorias. E, como
era de se esperar, esse custo está a ser repassado para os consumidores,
provocando um efeito dominó nos preços de quase todos os bens, inclusive os
alimentares. Sem mecanismos de controlo, até os produtos importados passaram a
subir sob o pretexto do transporte interno.
O povo não é cego nem surdo. Se o governo não recuar, deve preparar-se para
enfrentar protestos legítimos, barulhentos e crescentes. A sociedade civil já
começa a despertar, e até os sindicatos — mesmo os mais alinhados ao regime —
não conseguirão conter por muito tempo a pressão dos seus associados.
O momento exige acção preventiva e não mera reacção aos factos consumados.
A liderança política deve, urgentemente, reaprender a ouvir o clamor do povo ou
se verá forçada a ouvi-lo nas ruas, sob a forma de indignação popular.
E, como sempre, os oportunistas de ocasião já esfregam as mãos,
transfigurados em líderes da contestação, com os egos inflados e certos de que,
mais uma vez, "vai chover kumbú" — como já se tornou hábito.
Enquanto isso, os vossos “camaradas” andam envergonhados, com receio até de
envergar a indumentária partidária. Um sintoma claro de que até dentro do
próprio partido o desconforto é real. Resta saber se preferem continuar a
governar sob o silêncio constrangido ou escutar de vez a voz rouca das ruas.
0 Comentários