O gabinete de imprensa da Presidência da República ainda não reagiu às informações divulgadas na imprensa, segundo as quais a Comissão Interministerial para a Organização das Acções Comemorativas Alusivas ao 50.º Aniversário da Independência Nacional teria recebido “ordens superiores” para retirar o nome do antigo membro do regime, Augusto da Silva Tomás, da lista de homenageados.
Augusto da Silva Tomás, ministro dos Transportes entre 2008 e 2017, deixou um legado assinalado por avanços significativos na reconstrução das principais linhas ferroviárias do país, modernização dos portos e tentativas de revitalizar a TAAG, contribuindo para a integração regional e o desenvolvimento da infraestrutura logística. Foi também ministro das Finanças, mas foi enquanto governador de Cabinda, em finais de 1992, que escapou ileso e fugiu para o Soyo, quando três capitães das extintas FAPLA tentaram tomar o poder na província, por descontentamento no processo de desmobilização. Terá sido pelos seus feitos, à semelhança de outros antigos membros do Governo, que a comissão o incluiu inicialmente na lista dos homenageados.
A Comissão Interministerial, criada por Despacho Presidencial de 18 de janeiro de 2024, é coordenada pelo Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida. O coordenador-adjunto é o Ministro de Estado e Chefe da Casa Militar, Francisco Furtado. De acordo com o que circula, a comissão terá tentado por duas vezes incluir o nome de Augusto da Silva Tomás, sem sucesso.
Augusto Tomás e João Lourenço mantinham uma relação de proximidade durante o período em que este último integrava o governo, antes de assumir a Presidência da República. No entanto, essa ligação esfriou após João Lourenço se tornar Chefe de Estado e Augusto Tomás ter sido condenado e enviado à prisão. A recente exclusão do nome de Tomás da lista de homenageados está a ser interpretada como uma forma de evitar um reencontro entre o Presidente e o seu antigo aliado, desde que este foi libertado.
A exclusão do nome de Tomás ocorre em paralelo à divulgação de uma série de publicações em jornais privados e portais da internet, lançando acusações contra o ex-ministro dos Transportes. Na referida campanha, associa-se o seu nome a escândalos financeiros e a figuras controversas do empresariado nacional, numa alegada acção descrita como sendo de “motivações políticas”.
No centro das insinuações encontra-se o empresário Mohamed Mamoud Ould Sidi Mohamed, actual administrador do grupo Ango Real, que é descrito nas publicações como suposto “testa de ferro” de Augusto Tomás. Os conteúdos divulgados acusam Mohamed Mamoud de envolvimento em práticas que violam os direitos laborais e em esquemas de favorecimento económico, tentando, por associação, implicar o antigo governante.
Neste fim de semana, o empresário Mohamed Mamoud reagiu numa das rádios, negando qualquer ligação com o antigo ministro. Entretanto, uma fonte próxima ao regime assegura que não existe qualquer relação comercial ou política entre Augusto Tomás e Mohamed Mamoud. A mesma fonte afirma que o único contacto entre ambos ocorreu “a pedido do então governador de Luanda, Bento Bento”, num encontro meramente protocolar. “Estão a criar fantasmas para justificar silêncios”, comentou.
Naturalizado angolano e membro do Comité Central do MPLA, Mohamed Mamoud
tem sido alvo de diversas investigações jornalísticas, embora o seu nome
raramente apareça associado aos círculos do poder que o protegem. Para
observadores políticos, a tentativa de o relacionar com Augusto Tomás pode
estar inserida numa estratégia deliberada de descredibilização.
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