O Procurador-Geral da República deverá ir esta manhã de quinta-feira, 22, ao palácio presidencial para entregar, em mão, a sua carta de renúncia ao cargo. A audiência a Hélder Fernando Pitta Gróz será uma das últimas actividades oficiais do Presidente da República antes de se dirigir ao aeroporto para mais um “tour” ao estrangeiro.
A renúncia ao cargo de Procurador-Geral da República é uma exigência dos
médicos espanhóis que assistem Hélder Fernando Pitta Gróz O Procurador-Geral da
República padece de graves problemas renais.
Após a renúncia ao cargo, decisão a que o Presidente da República não se deverá opor, Pitta-Gróz deverá estabelecer-se em Lisboa, ou na cidade espanhola de Pamplona, capital da província de Navarra, para sujeitar-se a hemodiálise mais cuidada.
Em condições normais, Pitta-Gróz deveria deixar o cargo apenas em Março do
próximo ano, altura em que completará 70 anos de vida, idade limite para o
exercício da função.
Considerado como um homem leal e obediente, a renúncia forçada de
Pitta-Groz deixará o Presidente da República sem um importante “oficial às
ordens” na dita cruzada contra a corrupção.
Mas, apesar da lealdade a João Lourenço, é reconhecido no PGR alguma independência
de espírito e uma encapotada resistência passiva a determinados desígnios e
caprichos do Presidente da República.
Tal é o caso envolvendo Isabel dos Santos, em que a turma que bajula João
Lourenço insinua que Pitta-Gróz não fez o suficiente para colocar a primogénita
de José Eduardo dos Santos perante a justiça angolana para responder pela
“tonelada” de crimes de que é acusada.
Um portal muito provavelmente financiado com fundos da própria Presidência
da República insinua, regularmente, que o PGR estaria entre os angolanos que
pretensamente sabotam os esforços de João Lourenço de combater a corrupção e a
impunidade.
Embora já tenha desbaratado muitos milhões de dólares em idas e vindas ao
Dubai e a outros destinos onde a primogénita de José Eduardo dos Santos poderia
ser localizada, é público e notório que nunca sobrou a Pitta Gróz vontade de
oferecer ao Presidente João Lourenço a mais desejada das prendas: Isabel dos
Santos.
A caçada à Isabel dos Santos começou Janeiro de 2020, depois que o Consórcio
Internacional de Jornalistas publicou uma investigação, a que deu o nome de
Luanda Leaks, em que expôs duas décadas de saque, roubo e favorecimento que
tornaram a primogénita de José Eduardo dos Santos a mulher mais rica da África.
A mando de João Lourenço, a PGR iniciou, desde então, uma volta ao mundo e
arredores identificando e catalogando empresas e interesses ligados à antiga
“Princesa”.
A pedido das autoridades angolanas, o Estado português chamou para a sua
tutela os principais activos que Isabel dos Santos tinha neste país,
nomeadamente a EFACEC e o Banco BIC e viu congeladas todas as contas bancárias.
A perseguição a Isabel estendeu-se a todos os países onde possuiria ou era
suposto possuir qualquer interesse. Em Londres e em Haia perdeu duas
milionárias acções judiciais intentadas por Angola.
Mas, apesar de todo o empenho e dinheiro disponível, a Procuradoria-Geral
da República não conseguiu, até hoje, colocar as mãos no mais desejado troféu
pretendido por João Lourenço.
Fernando Pitta Gróz vai ao Dubai com uma frequência quase mensal com o
pretenso propósito de fechar as “rotas de fuga” a que Isabel dos Santos poderia
recorrer.
No entanto, vídeos e as fotografias que a antiga Princesa posta quase
diariamente nas redes sociais sugerem que ela não tem planos de deixar, de
imediato, o Dubai, hoje por hoje feita na capital mundial do jet set.
Pitta Gróz está a um ano da sua jubilação. João Lourenço tem ainda pela
frente pouco mais de dois anos. Com a renúncia, forçada ditada por razões
médicas, tornou-se quase improvável que algum dia ambos venham a brindar à
detenção de Isabel dos Santos.
Inocência Maria Gonçalo Pinto, vice-procuradora-geral da República, é a
mais provável sucessora de Pitta Gróz.
Se optar por se estabelecer em Portugal, país de que também é nacional, à
semelhança de muitos altos dignitários angolanos, o tratamento médico de
Pitta-Gróz não lhe custará um tostão ao bolso, uma vez que correrá por conta do
Serviço Nacional de Saúde.
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