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Patentes, CompetĂȘncia e o Grande Teatro do MININT - Denilson Duro

 A nomeação de um novo Director Provincial do SME em Luanda reacendeu um debate que jĂĄ deveria ter sido resolvido hĂĄ muito tempo: no MinistĂ©rio do Interior (MININT), a hierarquia militar e a gestĂŁo pĂșblica sĂŁo tratadas como se fossem a mesma coisa. Porque, afinal, quem precisa de formação especĂ­fica em administração pĂșblica, planeamento estratĂ©gico ou polĂ­ticas de segurança quando se pode simplesmente ostentar uma patente elevada e mandar em tudo?

A lĂłgica Ă© infalĂ­vel: se alguĂ©m tem uma estrela ou um galĂŁo a mais, automaticamente sabe gerir pessoas, elaborar polĂ­ticas, administrar recursos e modernizar serviços pĂșblicos. É mais ou menos como supor que um piloto de aviĂŁo pode, sem problemas, gerir um hospital—afinal, ambos lidam com emergĂȘncias, certo?

PromoçÔes por Mérito (Ou Algo Parecido)

A progressĂŁo de carreira no MININT Ă© uma obra-prima da engenharia burocrĂĄtica. Quando surge uma vaga de direcção administrativa, a solução Ă© simples: promove-se alguĂ©m dentro da estrutura militar. Para quĂȘ procurar um gestor qualificado quando se pode simplesmente inflacionar a hierarquia e manter tudo na mesma?

A regra Ă© clara: se hĂĄ necessidade de um novo director, ele nĂŁo precisa entender de gestĂŁo pĂșblica, finanças ou modernização administrativa—precisa, sim, de uma patente compatĂ­vel. O resultado? Se nos prĂłximos cinco anos houver cinco novas direcçÔes a preencher, serĂŁo cinco novas promoçÔes a oficiais superiores, independentemente de competĂȘncia tĂ©cnica. E assim seguimos, inchando a estrutura, empilhando patentes e mantendo a aparĂȘncia de ordem.

Enquanto isso, os verdadeiros especialistas, aqueles que passaram anos a estudar e a trabalhar na administração pĂșblica, assistem de fora, porque, bem… nĂŁo tĂȘm patentes suficientes.

A FĂłrmula Secreta do MININT: Patente Acima de CompetĂȘncia

As boas prĂĄticas de gestĂŁo ensinam que funçÔes operacionais e funçÔes administrativas devem ser separadas. Mas o MININT tem uma abordagem inovadora: mistura tudo num sĂł pacote e torce para dar certo. Assim, um comandante operacional, treinado para acçÔes policiais e missĂ”es de segurança, Ă© de repente colocado Ă  frente de uma estrutura administrativa que exige conhecimento em gestĂŁo pĂșblica, direito administrativo, tecnologia da informação e polĂ­ticas estratĂ©gicas.

O resultado é previsível: conflitos internos, decisÔes desastrosas, processos emperrados e um ambiente onde ninguém sabe exatamente quem responde a quem. Mas isso não parece ser um problema, desde que a hierarquia esteja intacta e os cargos continuem distribuídos de forma "equilibrada".

E os cidadĂŁos? Ah, esses continuam a enfrentar as mesmas filas interminĂĄveis, os mesmos processos burocrĂĄticos, a mesma eficiĂȘncia lendĂĄria dos serviços pĂșblicos. Mas calma, tudo isso Ă© apenas um detalhe no grande esquema das coisas.

Reformas? Sim, Mas Com Calma… Ou Nunca

Reformar esse sistema seria lĂłgico, certo? Separar funçÔes administrativas de funçÔes operacionais, garantir que os cargos sejam preenchidos por mĂ©rito tĂ©cnico e nĂŁo por conveniĂȘncia hierĂĄrquica. Mas quem realmente quer isso?

Mexer nessa estrutura significa contrariar interesses, desmontar esquemas e, pior, obrigar muita gente a provar que realmente sabe o que estĂĄ a fazer. E isso, convenhamos, seria pedir demais.

EntĂŁo, seguimos assim: mantendo a tradição, fingindo que estĂĄ tudo a funcionar e promovendo quem precisa ser promovido—nĂŁo por competĂȘncia, mas porque a hierarquia assim o exige. O MININT segue sendo o mesmo grande teatro de sempre: muita farda, pouco resultado e um pĂșblico cada vez mais descrente no espetĂĄculo.

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