O cabelo branco começou a sair na barba e na cabeça. A pergunta de uma das minhas filhas foi: papy, já estás a ficar velho?
Essa pergunta parece inocente, mas levantou totalmente algumas questões sobre a idade, que se já vai, bem como o legado que precisamos deixar aos filhos e ao mundo. Fui direito à minha tradição diária para ler os principais acontecimentos que marcaram Angola, África e o mundo. E dentre tantas notícias inpactantes que sempre podem preocupar qualquer visionário angolano, a que mais deu-me vontade de reflectir e emitir uma opinião foi a que tem muito a ver com o nosso país.
O título é “Presidente da República lança celebrações do Dia da Paz e
Reconciliação em África” e inspirou-me a seguir o corpo da notícia para
perceber a visão por detrás deste chamativo destaque. E a verdade é que, no
quinto parágrafo, o autor destacou uma fala de João Lourenço enquanto
Presidente de Angola, mencionando o seguinte: “deixemos definitivamente para
trás o passado conturbado de desentendimento, de desarmonia e de discórdia que
condicionou e comprometeu a execução de estratégias de desenvolvimento que
ajudariam a impulsionar o nosso crescimento económico e colocar-nos a um nível
aceitável de competitividade com outras regiões do mundo”.
Essa citação abre margens para uma que habitualmente consideramos pergunta
de investigação para escrever artigos, livros, peças teatrais e até mesmo
filmes, pois consta nela uma mensagem que pode transformar Angola naquela nação
que todos nos almejamos: Se os partidos políticos angolanos estão divididos,
como Angola pode superar os seus desafios internos e construir uma nação unida
e sustentável?
Como ponto de partido é fundamental mencionar que estamos a poucos meses
para celebração dos 50 anos da Indendência Nacional, alcaçada a 11 de Novembro
de 1975 e a poucos dias para celebrarmos os 23 anos do alcance da Paz, mas o
nosso país ainda tem estado a enfrentar desafios significativos que impendem o
seu equlibrado ou pleno desenvolvimento.
No meio de tantos desafios que temos no contexto externo, a minha abordagem
centra-se na limpeza da casa, como condição para ser bem aclamado pelos
vizinhos ou até mesmo os desconhecidos. Falo inicialmente da dependência do
petróleo, da desigualdade social e da doentia e crónica fragmentação política
que começou com três grandes nomes e movimentos da “eterna” política angolana –
Holden Roberto (FNLA), Agostinho Neto (MPLA) e Jonas Savimbi (UNITA),
considerados por muitos pesquisadores como fundadores na nação. Esses males
fragilizam o grande potencial que todos esses fundadores viram e falaram que
Angola teria no continente.
Olhando para essa visão apresentada pelo Presidente João Lourenço, penso
que independentemente das divisões políticas, ainda vamos a tempo de
transformar o nosso país numa efectiva potência africana, pelo que apenas será
possível caso o foco de qualquer líder que assumir os destinos do país seja nas
pessoas – esse capital humano que tem estado a fugir para o exterior devido
aqueles factores conhecidos.
O nosso entendimento continua a ser de que a construção de uma nação
próspera e sustentável depende do investimento na educação, saúde,
infraestrutura e empreendedorismo, além de um compromisso com a unidade
política e social, à semalhança do que ocorria nos diferentes Reinos Africanos
e actualmente nos Estados Unidos da América: quem assume o poder, pensa acima
de tudo no Projecto da Nação Americana.
Para superarmos os males que temos enfrentado ao longos destes anos, temos
de apostar no abandono da dependência excessiva do potróleo para sairmos da
vulnerabilidade económica, pois todas as vezes que se regista a quedra do preço
do petróleo no mercado internacional, internamente vivemos um aperto
considerável na vida do cidadão. Razão pela qual, o chamado da diversificação
económica “cantada” há anos pelas lideranças do país ainda se posciona como
fundamentais para o crescimento local e a criação de empregos nos sectores da
agricultura, turismo, tecnologia e, especialmente, nas micro, pequenas e médias
empresas (MPMEs).
Tem de ficar claro para qualquer político e partido que almeja o poder que
o maior recurso de Angola não são os seus minerais como petróleos, diamantes e
outros, mas o seu cidadão. O angolano – inteligente, resiliente e criativo –
deve ser o centro de todas as atenções internas e externas das políticas
públicas.
A aposta na educação, no desenvolvimento pessoal e profissional, e na
promoção do empreendedorismo precisam ser mais do que prioridade, pois essa
acção deve ser através do investimento nos programas de capacitação e numa
educação de qualidade inquestionável para todos os níveis, desde a base até a
universidade, sendo consideráveis contributos para criarmos uma geração que
terá coragem, força e estratégias para enfrentar os desafios do século XXI e
inovar nos sectores mais diversos da economia.
Para conseguirmos ser uma nação forte, competitiva e termos uma economia
que atinja o pico do desenvolvimento sustentável, temos de olhar com acções
concretas aos sectores da saúde e educação, pois uma população saudável e
bem-educada, alavanca o país. Quantas pessoas que dariam grandes contributos ao
país acabaram por morrer por falta de uma humanizada assistência médica e
medicamentosa? Quantas pessoas receberam capacitação adequada e se tornaram
profissionais altamente qualificadas? Quantas pessoas perdemos de paludismo
causada por falta de condições básicas de saneamento nas comunidades?
São tantas e infindáveis questões que faria para despertar a visão dos meus
leitores sobre a importância de uma urbanização planeada e a melhoria do
saneamento básico como aspectos vitais para garantirmos uma boa qualidade de
vida aos angolanos, não esquecendo de olharmos igualmente que a infraestrutura
urbana deve ser modernizada, com ênfase no transporte público e acesso à água
potável, para que as cidades possam crescer de forma sustentável e inclusiva.
Outro aspecto não menos importante é o fomento necessário ao
empreendedorismo e às MPMEs, as micro, pequenas e médias empresas, como a
espinha dorsal de qualquer economia que se quer desenvolvida. Um exemplo que
vai dar sentido a essa tese é o facto do homem mais rico da Europa, Bernard
Arnault, presidente do maior grupo de luxo mundial LVMH, ter ameaçado se mudar
para os ‘EUA de Trump’ após ‘aperto’ de imposto na França. Trump convida-o para
investir em fábricas com menos de 15% nos impostos, enquanto o governo Macron,
aumentou mais 15% nos impostos.
Em Angola, as MPMEs podem desempenhar um papel crucial na diversificação da
economia, na geração de empregos e no fortalecimento do mercado interno, tendo
o governo a missão especial de criar um ambiente favorável ao empreendedorismo,
proporcionando incentivos fiscais, acesso a crédito e redução da crónica
burocracia que se regista. Os esforços para a digitalização da governação são
louváveis, mas a inovação também deve ser estimulada, com políticas que
incentivem o uso de novas tecnologias nos sectores como a agricultura,
manufatura e serviços.
A justiça social é outro pilar fundamental para o desenvolvimento de
Angola, pois a redução das desigualdades e a promoção da inclusão social são
essenciais para garantir que os benefícios do crescimento económico cheguem a
todos os cidadãos, especialmente os mais vulneráveis. Isto quer dizer que as
políticas públicas devem focar na redução da pobreza, na melhoria da
distribuição de renda e no acesso universal a serviços essenciais como saúde,
educação e habitação.
O último aspecto que dá título ao meu artigo é a resposta a pergunta de
investigação acima mencionada. Para tal, entendemos que para superarmos a
fragmentação política e construirmos os melhores e mais sólidos caminhos para a
unidade de todos os angolanos, que tem sido um dos maiores desafios para o
país, é a eliminação da disputa constante entre partidos políticos que não
pensam Nação. Não compreendem a importância de se construir um único e coeso
projecto político de nação, para facilitar a implementação de todas as vontades
e políticas públicas que se entenderem eficazes para facilitar na criação de
uma agenda nacional unificada.
Para que o país avance, é necessário que os líderes políticos – partidários
ou não - se unam em torno de um projecto comum de desenvolvimento e que o
diálogo e o consenso prevaleçam, permitindo a construção de um ambiente
político mais colaborativo, em que as diferenças sejam respeitadas, mas a
unidade seja prioritária, para superarmos a actual crise de confiança generalizada
em Angola que abre consideráveis desvantagens em caso de qualquer conflito que
possamos ter com outro país.
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