Alves da Rocha, na edição de 24 de Fevereiro de 2023 do Jornal Expansão, fez uma análise sobre o fenómeno das assimetrias no nosso país, e passo a citar: “são conhecidas as assimetrias regionais no nosso país, não tendo havido modelo de crescimento que as atenuasse: o interior é cada vez mais interior (incapaz de atrair investimentos privado, inapto de reter população economicamente activa, muito distante dos padrões de vida médios do país, afastado das grandes, decisivas e estratégicas decisões sobre o desenvolvimento económico) e o litoral com argumentos cada vez mais convincentes para reunir as condições para a sustentabilidade do seu crescimento económico”.
Esta simpatia de AR em atribuir um certo “privilégio” ao litoral, parece-me exagerado, pois o fenómeno das assimetrias no nosso país vai afetando tanto o interior como o litoral. Há exemplos fragrantes de Municípios da nossa costa marítima com grandes dificuldades de desenvolvimento, resultado deste desnível que, “insistimos” em combater de forma inversa.
O fenómeno das assimetrias regionais no nosso país, é um facto. A necessidade do seu combate é um dado assente e deve ser tratado de forma célere. O seu combate de passar primeiro, na definição de prioridades. É preciso delinear estratégias que impactem realmente na vida das nossas populações. Segundo, é preciso maior clareza nos processos de alocação dos projectos estruturantes a nível de todo país. Terceiro, haver justiça na distribuição dos recursos provenientes do PIB para permitir maior equilíbrio entre as províncias, municípios e comunas.
As desigualdades entre os territórios no nosso país acentuaram-se, bem como a concentração da população, do emprego, do tecido produtivo e da criação de riqueza em vários municípios do litoral, enquanto as condições de vida da generalidade dos trabalhadores e das famílias se degradaram.
Falar de assimetrias regionais em Angola e particularmente na Província do Zaíre, é na verdade ver confirmada aquilo que vem estampado no Decreto Presidencial 270/24 de 29 de Novembro, que classifica os municípios de Angola, como os do Tipo A, B, C, D, E.
Quanto aos critérios utilizados para a referida classificação, é tema que requer sempre uma abordagem mais aprofundada, pois há comparações que podem ser feitas, como por exemplo, o caso do Município do Dande que é uma estrutura orgânica de Tipo A, enquanto o Nzeto com a classificação de uma estrutura orgânica do Tipo C.
A nível da província do Zaíre, temos o Soyo e Mbanza-Kongo com a classificação de Municípios do Tipo A, Luvo, Noqui e Nzeto, com a classificação de estrutura orgânica do Tipo C, enquanto Cuimba e Tomboco com a classificação do Tipo D. Lufico, Quêlo, Quindeje e Serra da Canda com a classificação do Tipo E.
A ausência de igualdade, equilíbrio ou correspondência entre os municípios é uma realidade que nos leva a refletir sobre a necessidade do seu estancamento ou o olhar impávido e sereno da sua continuidade. A nossa prioridade deve passar sempre pelo seu combate, elevando os pontos de equilibro entre os municípios com vista a redução dos níveis destas assimetrias entre os mesmos. Aliás, esta visão é partilhada pelo Titular do poder Executivo, quando a 16 de novembro 2023 disse e passo a citar - “O combate às assimetrias regionais e a ligação entre o campo e os principais mercados de consumo não são apenas um projecto. É uma realidade em curso em todo o país, impulsionada pelo Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) e pelo Programa Integrado de Desenvolvimento do Comércio Rural (PIDCR)”.
Esta necessidade do combate as assimetrias regionais é imperiosa, porque os sinais de degradação em alguns municípios são cada vez mais acentuados. Inicialmente, é preciso um compromisso de nação para a assunção da redução destas assimetrias em todo país e particularmente a nível da Província do Zaíre, porque esta realidade tem vindo a contribuir para a pobreza cada vez mais acentuada das nossas populações. Temos de imprimir outra dinâmica na definição das politicas públicas como forma a reduzir a diferenças de desenvolvimento entre as províncias, municípios e comunas.
A nova divisão política e administrativa que contempla a passagem de comunas para municípios, como é o caso particular do Quindeje (Ex – Bessa Monteiro) que passa a município, leva-nos a questionar sobre os modelos de gestão que serão aplicados nestas novas estruturas orgânicas, para se inverter este cenário de enormes diferenças.
É preciso compreender que as assimetrias regionais, são influenciadas por características próprias de cada território bem como o seu legado histórico, político, geográfico e humano. Estas desigualdades podem afectar o desenvolvimento das regiões. Portanto, há que se ter sempre em conta um conjunto de variáveis antes da tomada de qualquer decisão política.
Uma das formas que pode ajudar a inverter o actual quadro, é a definição de estratégias que possam contribuir para a atracção de investimentos, de acordo ao potencial de cada região, buscando pontos de equilíbrio entre as localidades para se evitar, não apenas o fenómeno das assimetrias, bem como a chamada fuga de cérebros, pois é tendência do ser humano, procurar zonas de maior “conforto”.
Relativamente a Província do Zaíre, nos últimos anos assistimos à aprovação de projectos como a construção da Centralidade do Soyo, da Refinaria do Soyo, do Centro Logístico do Soyo, do projecto dos fertilizantes e agora o Instituto Politécnico etc., (sem citar os projectos ligados ao gás).
Não sabemos, até que ponto é positivo, canalizar, de forma reiterada cerca de 80% dos projectos estruturantes destinados a província, para um único município. É bem verdade que o município do Soyo assume um papel de grande relevância pelo facto de possuir um porto, um aeroporto com regularidade de voos, ligação marítima por Catamará e uma estrutura logística no domínio petrolífero, mas é preciso estendermos o campo de observação e análise na altura de alocação de qualquer projecto, sob pena de continuarmos a ver municípios como o Nzeto, Tomboco, Cuimba e Noqui cada vez mais atrasados em termos de desenvolvimento socioeconómico. A esperança moribunda e o conformismo de que; só a implementação do poder local, salvarão estes coitados municípios é cada vez mais moribunda.
A administração pública por vezes deve levar-nos a fazer uma restrospectiva sobre aquilo que foi feito de bom no passado e aproveitar estas experiências para delinear estratégias futuras. É preciso recuar no tempo e perceber a nossa história enquanto povos, para termos de facto a noção de onde saímos e para onde pretendemos seguir enquanto nação. Não é possível ter sucesso nos processos de gestão pública, quando não conhecemos a história e o passado dos povos que nos propomos governar.
Durante a preparação deste artigo, constatei que, em relação ao projecto do
fosfato, nos anos 80 (pouco depois da nossa independência), a empresa pública
Fosfang, tinha uma equipa de técnicos oriundos da Bulgária, liderados por um
Engenheiro (falecido), Angolano Canga, estavam instalados no Município do
Nzeto, onde tinha o seu “quartel- general” enquanto trabalhavam nos trabalhos
de prospecção no Lukunga.
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