Entre a formação profissional do titular e a natureza da pasta, especialmente em um momento em que Angola enfrenta desafios sérios na área da segurança e integridade dos seus órgãos de defesa. Esse questionamento, embora comum em situações de alta expectativa pública, revela também a complexidade da escolha para cargos ministeriais, onde critérios como confiança, experiência em gestão e alinhamento político muitas vezes prevalecem sobre a formação técnica específica.
Em
muitos países, Angola incluída, o Ministro do Interior não precisa
necessariamente ter experiência nas forças de segurança para ser considerado
apto para a função. Os cargos ministeriais são predominantemente políticos e,
por isso, cabem ao presidente ou ao chefe do Governo nomear pessoas de sua
confiança e que possuam habilidades gerenciais e políticas adequadas.
A
escolha de um "civil" como Manuel Homem para o Ministério do
Interior, nesse sentido, não é uma excepção à regra, mas reflecte uma abordagem
comum em governos de todo o mundo.
No contexto angolano, onde o sistema de segurança tem sido desafiado por questões internas – incluindo relatos de envolvimento de policiais em actividades ilícitas, como o tráfico de combustíveis e outros crimes –, alguns podem argumentar que a escolha de um nome com histórico nas forças de segurança poderia trazer uma percepção de maior firmeza na resposta a esses problemas.
É
verdade que a presença de alguém familiarizado com as operações de campo e com
a "trungunquice" quontidiana poderia sinalizar, simbolicamente, um
comprometimento directo com a reforma e o rigor na aplicação das normas dentro
das próprias forças de segurança.
No entanto, a nomeação de Manuel Homem também pode representar um enfoque estratégico diferente, talvez voltado à gestão e reorganização institucional mais do que à actuação operacional directa. A experiência de Homem em cargos de gestão, mesmo fora do sector de segurança, pode ser vista como uma escolha por alguém que é reconhecido por seu histórico de trabalho e que poderia, assim, trazer uma abordagem nova para lidar com problemas estruturais.
Sua actuação anterior em Luanda, embora em um sector diferente, é percebida como relativamente positiva e, por isso, ele pode ser encarado como alguém capaz de administrar desafios em um Ministério marcado por complexidades e demandas urgentes.
Dentre
as alternativas que o Governo angolano poderia considerar, existem jovens
quadros dentro da própria corporação, como Aristófanes dos Santos, Delfim
Kalulu, Froz Adão Manuel, Gil Famoso, Divaldo Martins, Jorge Bengui, Waldemar
José, Elisabeth Rank Frank, Manuel Chima, e outros, que têm reputação e
competência para trazer uma visão renovada aos órgãos de segurança. Muitos
desses nomes já demonstraram capacidade em posições de liderança e talvez
estivessem bem posicionados para iniciar reformas e fortalecer a dignidade da
corporação. Porém, a preferência recaiu sobre um "civil", indicando
uma possível tentativa do Governo (Presidente da República) de trazer uma
perspectiva mais abrangente, ou, quem sabe, reforçar a confiança em alguém com
quem já há uma boa relação de trabalho.
O
sucesso de Manuel Homem dependerá, não só de sua capacidade de gerir o
Ministério do Interior em um cenário adverso, mas também do apoio e
acompanhamento que ele receberá, tanto do Presidente da República, quanto dos
comissários experientes. Este suporte é essencial para que ele possa navegar
por um Ministério permeado de questões sensíveis e implementar uma gestão que
atenda às expectativas da sociedade e dos efectivos.
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