JoĂŁo Lourenço começa a sofrer vĂĄrias pressĂ”es internas por parte de notĂĄveis figuras do partido que recomendam o respeito escrupuloso pela Constituição da RepĂșblica e nĂŁo forçar um 3Âș mandato presidencial e tambĂ©m a admitir mĂșltiplas candidaturas para o cargo de presidente do MPLA. Os detalhes do tenso e "pedagĂłgico" encontro de JoĂŁo Lourenço com Dino Matrosse na Cidade Alta.
Tudo isso quando faltam trĂȘs meses para a realização do Congresso
Extraordinårio do MPLA. A pressão vem também do Conselho de Honra do MPLA em
ouvir e questionar o lĂder; O desconforto de Ana Dias Lourenço, numa situação
que a coloca no meio de uma guerra com os parentes Dino Matross e Fernando da
Piedade Dias dos Santos "Nandó" e a confirmação de algo hå muito
esperado: Nandó vai mesmo avançar para a disputa ao cargo de presidente do
MPLA!
"Se isso Ă© falar mal de si, camarada presidente, entĂŁo falei!", disse Dino Matrosse a JoĂŁo Lourenço. A primeira abordagem foi circunstancial e Ă margem de um encontro do MPLA no Centro Cultural de Belas (CCB), ainda em finais do ano passado, JoĂŁo Lourenço terĂĄ manifestado o seu desagrado ao camarada Dino Matrosse por alegadamente ter recebido informaçÔes de que o histĂłrico militante do Partido andava "a falar mal" de si em vĂĄrios cĂrculos de militantes. Dino Matrosse ficou surpreso e assustado com a abordagem e a gravidade das acusaçÔes levantadas pelo lĂder do seu partido, preferindo gerir a situação em silĂȘncio.
Passados alguns meses, e, jĂĄ no inĂcio deste ano, Dino Matrosse recebe uma
chamada telefónica de Edeltrudes Costa, director de gabinete de João Lourenço,
"convocando-lhe" para um encontro com o seu chefe no PalĂĄcio
Presidencial da Cidade Alta.
Dino Matrosse acedeu à "convocatória" e fez-se presente. Além de
João Lourenço e Dino Matrosse, estiveram presentes ao encontro os generais
António dos Santos França "Ndalu" e José Ferreira Tavares. Este
Ășltimo Ă© amigo de JoĂŁo Lourenço e conhecido por ser um dos homens de confiança
do PR. O general Tavares age sempre em modo de "baixa visibilidade" e
é um verdadeiro oficial de campo de João Lourenço para executar as missÔes mais
sigilosas e delicadas por si orientadas.
Em pé, com semblante carregado, o anfitrião João Lourenço recebe o seu
"convocado" Dino e avança imediatamente para os motivos de tão
urgente e necessĂĄria reuniĂŁo: "Oca- marada Dino Matrosse tem estado a
falar mal de mim. Esta Ă© a segunda vez e saiba que nĂŁo haverĂĄ terceira
vez!". Perante esta abordagem, Dino Matrosse respondeu mais ou menos
nestes termos: "camarada Presidente, se dizer que os restos mortais do
camarada Presidente JosĂ© Eduardo dos Santos foram recebidos no PaĂs de forma
indigna e desonrosa Ă© falar mal de si, entĂŁo falei! Se dizer que nĂŁo Ă© justo
que seja retirada a imagem do camarada José Eduardo dos Santos dos comités do
Partido e de outras instituiçÔes é falar mal de si, então falei! Se dizer que
foi uma falha nĂŁo ter feito qualquer referĂȘncia ao camarada JosĂ© Eduardo dos
Santos por altura da inauguração do novo aeroporto é falar mal de si, então
faleil
Se dizer que nĂŁo o apoiaria na questĂŁo de um eventual 3Âș mandato Ă© falar
mal de si, entĂŁo faleil, terminando com um: "Se isso Ă© falar mal de si,
entĂŁo falei!
Este terĂĄ sido o mais tenso, aberto e interessante confronto entre figuras
de duas geraçÔes distintas do MPLA, o kota Dino Matrosse de 81 anos (faz 82 em
Dezembro prĂłximo) e JoĂŁo Lourenço de 70 anos (completados em Março Ășltimo),
dois homens que trabalharam juntos em muitas estruturas, dossiers e programas
do MPLA.
O clima tenso terĂĄ baixado quando o antigo secretĂĄrio- -geral do MPLA
(2003-2016) dirigiu-se a JoĂŁo Lourenço com a experiĂȘncia e pedagogia prĂłprias
dos mais-velhos: "O camarada Presidente anda muito sensĂvel. Anda muito
sensĂvel". Foi o culminar de um encontro cuja reuniĂŁo de 26 de Agosto de
JoĂŁo Lourenço com os lĂderes dos ComitĂ©s de Acção do Partido (CAP) trouxe
pormenores sobre a mesma, mas abalou a relação entre dois camaradas e
companheiros de partido. Como terĂĄ dito no inĂcio, JoĂŁo Lourenço, certamente, nĂŁo
haverĂĄ terceira vez.
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