Saudações, Neandertais! Trago-vos notícias de um futuro distante, cerca de 40 mil anos a partir de agora. Não vos surpreendam, mas quem dominará o planeta não serão vocês, mas os Homo sapiens, uma espécie que, através de adaptações culturais e tecnológicas, irá moldar a Terra à sua imagem.
Mas, curiosamente, esses Homo sapiens do futuro olharão para o vosso tempo com
espanto e crítica. Serão os herdeiros de uma história longa e complexa, onde o
conceito de igualdade e opressão entre os géneros será reinterpretado inúmeras
vezes. Primeiro, passarão por um período que eles chamarão de Idade Média,
também conhecido como as "trevas". Após essas trevas, surgirá uma era
a que se referirão como o Renascimento, o renascer da civilização e do
pensamento crítico.
Com o surgimento da Revolução Industrial, as dinâmicas sociais e económicas transformar-se-ão.
O trabalho, que durante milénios foi organizado de forma natural por necessidade, será agora dividido entre o que é "justo" ou "injusto". Os sapiens do futuro criarão nações, com fronteiras políticas, e elaborarão algo estranho chamado leis. Essas leis terão o poder de criminalizar até o passado, especialmente no que toca às relações entre homens e mulheres.
E é aqui que as coisas se complicam. Na visão dos Homo sapiens modernos, a vossa forma de viver – dividida entre caça, recolha e sobrevivência – será vista como opressiva, e dirão que as mulheres foram subjugadas pelos homens. Como se, num gigantesco complô, os homens tivessem conspirado, desde os primórdios, para manter as mulheres sob o seu controlo. Eles irão reescrever a história dessa forma, ignorando as necessidades e contextos da vossa era.
Assim, Neandertais, preparem-se para serem julgados por atos que não faziam
parte da vossa realidade. Para os sapiens futuros, o vosso simples modo de vida
será considerado injusto. E essa será a ironia do progresso: a capacidade de
julgar o passado com os olhos do presente, esquecendo que o passado também
tinha os seus próprios desafios e formas de sobrevivência.
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