Faltando apenas poucos dias para completar seis meses do ano 2024, em consequência dos atrasos de salário nos meses de Março, Abril, Maio e Junho, os trabalhadores da Empresa Fabril de Calçados e Uniformes (EFCU-EP), subordinada ao Ministério da Defesa, Antigos Combatentes e Veteranos de Guerra, cujo objetivo principal é a produção de calçados e uniformes para as FAA, têm se transformado em pedintes e se encontram em extrema vulnerabilidade. Para chegarem ao local de trabalho, dependem de caravanas de funeral em direção ao cemitério do 14, apenas para evitar faltas. Mesmo sem dinheiro, a presença de todos no local de serviço é obrigatória.
Texto de Elias Muhongo
Os trabalhadores da empresa pública de Calçados e Uniformes - EFCU-EP voltam a denunciar, nesta quinta-feira, 27, os salários em atraso, baixos salários, ameaças de expulsão e injustiças, devido à arrogância do Conselho de Administração liderado pelo Engenheiro Químico Têxtil, Artur Augusto Luís Tombias.
Segundo o coletivo de trabalhadores, a direção é acusada de gestão danosa que penaliza os funcionários, especialmente com salários baixos, abusos constantes e arrogância dos dirigentes.
"Desde Novembro de 2023, ficamos sem os subsídios de final de ano, assim como os salários de Novembro e Dezembro. Embora a empresa tenha pago esses meses em Janeiro e Fevereiro deste ano, incluindo os subsídios, passamos os festivais de ano novo sem salário. Até agora, as dificuldades com os salários continuam. Neste momento, a empresa nos deve os salários de Março, Abril, Maio e Junho. Terminaremos o quarto mês sem nenhum horizonte claro, apesar da direção da empresa ter convocado os funcionários para esclarecer os atrasos nos salários.
Segundo o Diretor Geral, Arturo Augusto Luiz Tombias, os atrasos salariais se devem ao fato de o departamento de logística do Ministério da Defesa e Veteranos da Pátria (MINDEV) ter adquirido os uniformes sem ainda transferir os valores, pois o Ministério das Finanças não liberou os fundos necessários ao Ministério da Defesa. Em outras palavras, o pagamento dos uniformes pelo cliente (departamento) depende dos fundos do Ministério da Defesa. Por outro lado, a direção declarou que enquanto a produção não melhorar, "vocês não terão salários", devido à falta de empenho dos funcionários.
Dias depois, ele mencionou ter se encontrado com a Ministra das Finanças por acaso para discutir a situação, e agora só podemos esperar. No entanto, somos obrigados a trabalhar para não perder o emprego. Foi então que tentamos uma paralisação, ficando de braços cruzados por duas semanas, o que resultou num acordo de que, enquanto os salários estiverem atrasados, devemos trabalhar todos os dias até às 13 horas, com uma meta mínima de 400 uniformes, incluindo casacos militares.
Portanto, até agora, não há nenhuma informação clara do órgão responsável, o que é incompreensível, especialmente porque o presidente de Angola mencionou publicamente várias vezes a situação na empresa. Ele afirmou que "a partir de agora, Angola deixará de importar uniformes para os órgãos de Defesa e Segurança", pois a fábrica "TEXTANG II" já está operando para produzir os uniformes", afirmou o coletivo de trabalhadores.
Os trabalhadores também acusam a empresa de não fornecer equipamentos de proteção adequados para lidar com produtos químicos, como a tinta das botas e a poeira dos tecidos, que causam doenças respiratórias e alérgicas. Eles afirmam não receberem subsídios de risco nem reconhecimento adequado.
"Estamos completamente exaustos devido à demora no pagamento dos salários. Desde os incidentes de desmaios que suspenderam nossas atividades por nove dias em Outubro de 2023, supostamente devido à intoxicação por produtos químicos, a empresa ainda não fez nenhum pronunciamento claro sobre a causa dos desmaios. O Ministério da Defesa (FAA) também se mantém em silêncio.
As suspeitas recaem sobre o produto químico usado pela empresa de desinfestação contratada após os desmaios. O Serviço de Investigação Criminal (SIC) e o corpo de bombeiros investigaram o local para determinar a causa dos desmaios, mas quase um ano depois ainda não há resposta.
A direção da empresa prometeu apoio aos afetados, mas a CSG-SILA, responsável pelo apoio às vítimas, não fez nada para ajudar. Durante o primeiro atraso salarial (Novembro, Dezembro e Janeiro de 2023), a CSG-SILA não se manifestou para apoiar os trabalhadores, embora descontem automaticamente 800 kz dos salários, o que é muito dinheiro, especialmente considerando que há colegas que ganham acima do salário mínimo de 70.000 kz. Em uma empresa com 1.500 trabalhadores, isso representa uma quantia significativa.
Este atraso nos salários sempre foi resultado da pressão dos trabalhadores. Antes da posse do presidente em 2017, até o final de seu segundo mandato, produzíamos 1.000 pares de uniformes por dia, mas os salários eram extremamente baixos, entre 30.000 a 40.000 kz, com más condições de trabalho e sem assistência médica.
Infelizmente, hoje estamos quase dois anos sem a ajuda da CSG-SILA para nos defender. Parece que eles preferem negociar diretamente com a direção da empresa em vez de nos ouvir, o que mostra que a CSG-SILA não está fazendo o suficiente para entender a situação na Empresa Fabril de Calçados e Uniformes.
Atualmente, esperamos uma ação da CSG-SILA para nos desafiliarmos, já que por muitos anos buscamos nossos direitos sem depender de um sindicato. Durante entrevistas, revelamos que entre nós há pais e chefes de família com relacionamentos destruídos devido à situação. Milhares de crianças estão fora do sistema educacional porque não podemos pagar as mensalidades escolares. Na nossa empresa com aproximadamente 1.500 trabalhadores, há mais de duas mil crianças e adultos sem acesso à educação.
Alguns funcionários já desmaiaram devido à fome durante o trabalho. Muitos de nós estamos em situação vulnerável e dependemos de caravanas de funeral para chegar ao trabalho.
Os trabalhadores ameaçam realizar uma manifestação pacífica nos próximos dias, sem motivação política, caso os salários não sejam pagos até o final de Junho.
"Pedimos diversas vezes um ambiente de trabalho melhor, mas eles não mudam e nos tratam como animais irracionais. Também queremos denunciar o silêncio da TV-ZIMBO e da Rede Girassol. Há duas semanas, a TV-ZIMBO esteve no local da Empresa Fabril de Calçados e Uniformes no programa "FALA ANGOLA", entrevistou-nos sobre a situação, assim como a Rede Girassol, mas até agora não transmitiram nossas denúncias", lamenta o coletivo de trabalhadores.
#O Club-K tentou contatar o Diretor Geral, Engenheiro Químico Artur Augusto Luís Tombias, pessoalmente e por telefone, sem sucesso. Seria importante ouvir a versão dele sobre os fatos, dado a gravidade das denúncias. No entanto, as portas do Club-K continuam abertas para qualquer contraditório competente.
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