Em primeiro lugar, devemos reconhecer que não se trata de uma empreitada fácil, mas, de qualquer modo, também não é nenhuma “missão impossível” para um quadro com a formação e a experiência de Esteves Hilário, embora tenha deixado transparecer, nas suas últimas abordagens, que também já foi domado pela tal cultura ditatorial de alinhamento para agradar o cacique, posicionamento que, provavelmente (acreditando que nada vem do nada), terá pesado nessa sua ascensão partidária.
Mas também não é menos verdade que Esteves Hilário assume
essa responsabilidade numa fase complicada, difícil, em que o MPLA está
profundamente desgastado (situação que se tem vindo a agravar, sobretudo, na
grande praça eleitoral, que é Luanda) pelo elevado descontentamento social,
face o que é tido como a falta de soluções no desempenho do Governo que é
liderado pelo seu Presidente, João Manuel Gonçalves Lourenço. E precisa de
recuperar do ‘KO’ que levou, embora eles relativizem a vitória da oposição, ou
o castigo infligido pelo eleitorado, incluindo parte do seu.
Mas eu, muito sinceramente, não acredito que, a esse nível, o MPLA conhecerá qualquer evolução até ao fim do segundo mandato do seu Presidente, João Lourenço, porque cá dentro os resultados dos ditos programas de fomento da produção gizados pelo seu Governo, continuam muito aquém do que era expectável.
A captação do investimento estrangeiro idem aspas, e, para
agravar, o ambiente de negócios vai de mal a pior; a corrupção continua em alta
(apesar de não haver tanto dinheiro ou fontes de abastecimento como no
passado), o descrédito nas instituições, principalmente da Justiça, é superior,
a depreciação da moeda, a redução do poder de compra e o encarecimento do custo
de vida e dos produtos vão continuar a constituir zonas vermelhas para o
convencimento das ‘massas’.
A par da oposição (meio amordaçada) essas sim (as massas),
constituem o elo mais forte no exercício da pressão ao poder e, logicamente,
quem dirige a comunicação do MPLA não deve descurar todos esses factores, mesmo
jogando com o campo inclinado a seu favor, tendo como suporte toda a máquina de
comunicação pública, controlada directamente pelo Gabinete do Presidente da
República. E a tal expressão de representatividade recentemente demonstrada em
Luanda na apresentação da agenda política, pode até representar nada, quando os
adversários ainda nem sequer começaram a aquecer.
É o mais do mesmo, é a
política de continuidade, porque o que está mal não são as pessoas, mas sim o
SISTEMA ao qual as pessoas têm de se moldar.
Embora não concorde com o estilo truculento de Rui Falcão
lidar com a comunicação social, acho que quem esteve mal naquilo que é o
conjunto dos resultados do MPLA, foi toda a sua direcção e particularmente a
sua liderança, pelo seu estilo.
Por outro lado, a estrutura de mando do MPLA sempre funcionou
à reboque da postura dos seus líderes (desde os tempos de Agostinho Neto) e
assim continuará.
Ela não tem autoridade para impor o pensamento e a estratégia
do partido, nem para cobrar a execução da sua estratégia eleitoral. Ela segue a
orientação ‘do camarada presidente’, porque faz tempo que o partido funciona
para suportar os seus líderes e não o inverso. Sempre foi assim e assim será,
com Esteves Hilário ou com um Hilário Esteves.
O MPLA sempre funcionou como uma máquina oleada para manutenção dos seus líderes no poder, sem que, em contrapartida, cobre resultados. E com João Lourenço, essa postura, aterrorizante, ficou mais visível, e percebe-se que anda meio perdido, até mesmo em relação ao seu futuro.
E saberá Esteves Hilário lidar com essa falta de liberdade
para impor a sua própria dinâmica de aconselhamento e de defesa de princípios,
quando existem projectos paralelos que não são sequer de coabitação com a
direcção do partido, porque fazem parte da estratégia do seu líder? E trago à
colação, o caso da Proposta de Lei da Divisão Política Administrativa, que não
foi discutido com a profundidade que o assunto merece ao nível do Bureau
Político, mas que foi atirado como uma ‘batata quente’ que está a queimar as
mãos dos deputados da bancada parlamentar.
Como é possível que, num quadro de escassez de recursos, em
que há necessidade de redução do peso da despesa com a máquina administrativa
pública, o Presidente da República impõe ao Estado mais sacrifícios para
sustentação financeira de mais duas províncias e de quase o dobro dos municípios
existentes (+161)? O que é que vai alterar, quando já existem dificuldades para
satisfação das necessidades de 18 províncias e dos 164 municípios?
É claro que nada, a não ser o prolongamento do vazio em
relação à realização das autárquicas. Mas também é claro que os membros desse
Comité Central e do Bureau Político maiores que o do Partido Comunista da
China, não conseguem expressar o seu pensamento sobre essa matéria, com a
liberdade e a responsabilidade que se impõe.
Em suma, parece-me que os maiores obsctáculos que Esteves Hilário terá de transpor então mesmo no interior da estrutura directiva do MPLA, particularmente na sua relação de subordinação (incluindo com Luísa Damião), para além da mesquinhice e das intrigas intramuros que são outro câncer que se espalhou pelo corpo desse partido.
Esteves Hilário sabe também que é necessária uma visão diferente na comunicação intra-partidária, mas, principalmente, para colmatar a ausência do MPLA nos grandes debates públicos sobre os diferentes problemas que afligem a Nação e muitos deles, mal discutidos ao nível da Assembleia Nacional.
Isenta-se das suas responsabilidades no diálogo com a
sociedade, permitindo, de forma enganosa, que esse espaço seja preenchido por
comentaristas ou escribas cooptados ao abrigo da promiscuidade entre esse
partido e a proteção descarada que recebe de órgãos da governação, incluindo
afectos à Segurança de Estado, numa violação clara aos princípios que devem
reger a relação num Estado Democrático de Direito, e de manipulação da
orientação editorial dos órgãos de comunicação públicos.
Esteves Hilário deverá ainda contrapor a tendência da fabricação de informação desqualificada e de assassinato de imagem que inunda as redes sociais com suporte do seu partido, com o pretexto de se informar melhor sobre o que fazem, até porque já ninguém acredita mais em histórias da carochinha.
A melhor forma para contrapor a desinformação é informar com
verdade, é abrir as portas, com rigor, de forma célere e actual, incluindo com
o recurso às redes sociais, mas com actores profissionais e não com bajuladores
e assassinos de consciência. E nisso, até porque se transformou mesmo num
partido-Estado, o MPLA deve dar exemplos dignificantes e não de alinhamento com
más práticas, como a devassa cozinhada e alimentada pela militância
lambebotista.
0 Comentários