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Tentativa de Apagamento da Memória Coletiva: A destruição da Escola de Formação de Professores (Ex-IMNE) do Sumbe

 O nosso Sumbe, em meios a toda a chacota com que é mimoseada, nos dias que correm, muito por culpa das imagens de marca, a que está associada, nos referimos à lama e à poeira, e das governações atribuladas que têm calhado na província do Cuanza-Sul, de uns anos para cá, tem também as suas boas referências, desde as humanas às simbólicas.

Quando falamos em referências humanas, nos estamos a ater essencialmente à faceta hospitaleira, generosa e simpática das suas gentes, o que leva a que muitos que lá vão, em trânsito ou como visitantes, acabam por encontrar motivos para regressar sempre ou para se instalar. O que significa que o traço de união, que qualquer um firma com os Sumbenses (naturais e residentes), é normalmente incindível.

Já as referências simbólicas do nosso pequeno burgo, têm a ver com os seus pontos geográficos de cartaz, como a sua marginal, embora de escasso pé de areia, faz as delícias dos amantes do turismo de sol e mar, capitalizado pela existência de espaços de hospedagem e restauração. Mas, têm a ver, sobretudo, com os múltiplos estabelecimentos de ensino, desde o ensino geral ao ensino superior, passando pelo ensino médio.

Muitos de nós, hoje homens e mulheres feitos e disseminados pelo país e pelo mundo, temos vivas lembranças de infância, pela passagem pelas escolas do Sumbe, como a n.º 27, a n.º373 (Ex-Mocidade), a n.º 324 e o Ex-Colégio. No ensino de base, a nossa casa comum foi a escola 14 de Abril, onde sedimentamos as nossas virtudes intelectivas e axiológicas, para servirmos à sociedade da melhor forma, no presente.

No ensino médio, inicialmente, tínhamos duas opções internas, ou seguir para o Instituto Médio Normal de Educação – IMNE ou para o Instituto Nacional de Petróleos – INP. Porém, é sobre o nosso saudoso IMNE-KS que nos sentimos compelidos a fazer essa pequena reflexão, para provocar um sobressalto de saudosismo generalizado e um sentimento de preservação de um bem patrimonial público, em avançada degradação.

Não tenhamos dúvidas, o IMNE é efectivamente um património público da província do Cuanza-Sul, em geral, e do Sumbe, em particular. Porquanto, foi a forja de inúmeros quadros e talentos nacionais, partindo das especialidades de Geo-História, Bio-Química e Mat-Física, que se capacitaram técnica e cientificamente, com os necessários e rigorosos ensinamentos didáctico-pedagógicos, que fizeram de nós os valores acrescentados nas distintas áreas em que estamos inseridos, tais como o Direito, a Economia, a Contabilidade, a Medicina, a Gestão, o Professorado, a Política, enfim. Quem não se recorda dos Professores da dimensão do Tio Juju Sardinha, da Tia Guida Chipuco, do Padre Viana, do Chico Mendes Lopes, do Mariano Hungulo, do Prof. Caquarta, só para citar estes? E dos Professores Vietnamitas Lanh e Lápi? Foram tempos de puro crescimento formativo e humano, aprendemos a discutir e a pesquisar ciência, bem como a lapidar comportamentos e formas de estar na vida, valores de que nos temos servido na actualidade.

Por isso, é de franzir a testa, de rasgar o coração e de fazer desatar em lágrimas, estar diante da nossa Casa do Saber e constatar que as suas estruturas físicas estão em completa desarrumação arquitectónica, em situação de total descaso, por parte de quem tem responsabilidade na matéria educativa, e em flagrante e acelerada destruição do tecto à base, sob o olhar negligente de quem tem a responsabilidade, de fazer de modo diferente, pela Província do Cuanza-Sul.

Pode parecer um mero surto nostálgico, de que fomos momentaneamente acometidos, mas, não, é um grito de desespero face ao inevitável destino traçado para o nosso IMNE: o seu apagamento do mapa académico nacional, com toda a sua história, que segue viva e pujante em cada um dos seus ex-alunos. Que se pare com esse verdadeiro crime de lesa-memória! Não façam isso com aquela Casa do Saber, que ao menos nos convoquem para saber o que os ex-alunos podem fazer por ela, mas, não matem a base da nossa memória colectiva, que é o IMNE-KS!

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