De família ancestral do Bié, foi o primeiro entrevistado para a aventura dos CAMINHOS DA VIDA. Era o dia 10 do mês de Fevereiro de 2018. Neste momento está na sua aldeia da Chicala, Calucinga, dinamizando a construção da primeira escola da aldeia.
Ao iniciarmos o sétimo ano destas ininterruptas reportagens de vida, voltamos a conversar com o filho do Sambizanga, nascido em 1974, há 50 anos exactos. Que voltas deu a vida do menino filho de pais vindos de Calucinga, no Bié, e “aterrados” no histórico bairro de Luanda em busca de algo melhor para as suas vidas ainda jovens?
Berta Muhongo Bendeirão Chilandala e Mateus Katunguila, os seus pais, já faleceram, não conheceu a mãe, que morreu após o parto, mas o pai, camionista, ainda conheceu, e dele se recorda, mas fugazmente, conduzindo um camião.
Após o falecimento prematuro da mãe, Orlando Pedro Luciano foi entregue aos
cuidados dos avós, que o levaram para Waku Kungo. “O nome de Orlando foi-me
dado por duas irmãs madres italianas, na altura enfermeiras do hospital Maria
Pia, enquanto estive na incubadora, por ter nascido de forma prematura, ou
seja, no sétimo mês de gestação da minha mãe. A minha mãe faleceu aos 28 anos
de idade, eu sou o segundo filho, sou eu e a minha única irmã, a mais velha,
temos diferença de um ano, a Filomena Tchilandala Katunguila”, recorda.
“Ela teve sorte de ser registada com os nomes verdadeiros dos nossos pais
(Mateus de Freitas Katunguila e Berta Muhongo Bendeirão Tchilandala), por ser
registada já mais adulta que eu. Já eu, os meus avós decidiram registar-me como
filho porque o meu pai estava incontactável devido ao conflito militar. O
senhor Pedro Luciano, do qual tenho o apelido, foi apenas padrasto da minha
falecida mãe.”
Esta situação tem-no deixado muito intrigado, pois os filhos e os sobrinhos
não têm o mesmo apelido. “Juridicamente não somos familiares”, lamenta. “Uma
vez fui testemunhar o meu sobrinho, filho da minha irmã, o conservador
retirou-me da sala porque, ao ver o meu bilhete, apercebeu-se de que eu tinha
apelido diferente do dele e acusou-me de intruso.”
“Eu pertenço à linhagem do soberano Cilandala (le-se tchi), oriundo de
Pungo a Ndongo. Depois de terminar o serviço militar na administração colonial,
ele foi até à região do Tumba, numa aldeia do antigo posto administrativo do
Calucinga, actual comuna do Calucinga, no Andulo, onde foi investido como
Soberano. Parte dos meus familiares constituem a aldeia da Chicala, com cerca
de 200 habitantes”, continua a recordar.
No longínquo ano de 1992, num domingo, terceiro dia dos confrontos
pós-eleitorais, ele e os irmãos da igreja estavam em orações, no quintal, numa
das residências no Sambizanga. “Eu estava deitado na esteira, com a cara virada
para o céu, de repente decidi levantar a cabeça, como gesto de quem estava
cansado de tanto dormir, foi quando uma bala traiçoeira ia cravar-se na minha
cabeça se eu não levantasse a cabeça para a frente. A esteira começou a fumegar
e os meus companheiros disseram-me que eu não iria morrer mais.”
Infelizmente ele não terminou a licenciatura em Direito no ISPIL, Instituto
Politécnico Intercontinental de Luanda, já depois de 2018. “Cancelei o quarto
ano por conta das enormes dificuldades financeiras por que passava e da
enfermidade da minha esposa que pisou tala com a perna direita, por um pouco
ficaria sem a perna”, lembra com tristeza. “Ela teve uma ferida longa.”
Nos últimos tempos, Orlando Pedro Luciano continua a exercer a sua fé e
actualmente é pastor da Assembleia de Deus Pentecostal, sendo nomeado pastor da
Congregação Belém no Zango 0, em 2022, e transitou como pastor central da
igreja.
Ensinar a fazer sabão
“Neste decurso trabalhei como membro do Comité Técnico de Gestão do
Orçamento dos Munícipes de Cacuaco, durante dois anos, desenvolvendo um
projecto sobre formação de produção de sabão que está a beneficiar mais de 100
mulheres. Sou membro do Comité de Direitos Humanos de Cacuaco, com a função de
coordenador adjunto da subcomissão de promoção e divulgação.”
Orlando Pedro Luciano dirigiu, muito recentemente, a Comissão Eleitoral que
elegeu o corpo directivo da Rede das Organizações da Sociedade Civil de Cacuaco
(ROSCC)
“No âmbito do Projecto Cosca-Capacitando Organizações da Sociedade Civil,
financiado pela ADRA, tenho trabalhado nas comunidades, dando palestras sobre o
pacote legislativo autárquico. Em função disso, em 2023 fiz parte da comitiva
das organizações da sociedade civil que se deslocou à Assembleia Nacional para
perceber o trabalho dos deputados em matéria de produção de leis sobre a
implementação das autarquias em Angola.
Em Janeiro deste ano, ele foi certificado como treinador (formador)
regional por uma organização missionária, a Oasis World Ministries, uma
instituição sediada nos Estados Unidos da América e que consiste em treinar
pastores sobre o evangelismo pessoal, baseado em testemunhar a sua fé em outras
pessoas, em apenas um minuto.
“Estou a terminar o meu primeiro livro, “Evangélico, como cristão qual é
teu lugar na Bíblia?”, baseado no texto de Lucas 24:44.”
Entretanto, Orlando Pedro Luciano mudei de bairro e actualmente reside no
Zango 0, onde a igreja lhe arrendou uma casa.
“Estou a desenvolver um projecto de advocacia na aldeia da Chicala, em
Calucinga, terra dos meus ancestrais, para que as crianças e jovens tenham uma
escola, uma vez que na aldeia há jovens maiores de 18 anos que nunca foram à
escola. Quero lembrar que já fui praticante de atletismo, não cheguei a ser
federado, devido a um atropelamento de que fui vítima na zona do antigo Roque
Santeiro. Fui companheiro do Aurélio Mity no 1º de Agosto.”
E conclui: “Gosto de ler, de meditação e oração, que me permitem debater
qualquer assunto, desde política nacional e internacional, desporto, cultura ou
religião.”
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