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Angolanos são metade dos estrangeiros acolhidos em abrigos públicos na maior cidade do Brasil

 Migrantes angolanos representam metade dos estrangeiros que viveram em abrigos mantidos pela prefeitura da cidade brasileira de São Paulo e organizações parceiras em 2023, de acordo com as autoridades locais.

Dados enviados à Lusa pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da Prefeitura de Câmara de São Paulo indicam que no ano passado foram acolhidos 6.896 estrangeiros, de 97 nacionalidades, nos abrigos públicos.

"Para se ter uma noção de como vem aumentando o fluxo migratório, especialmente de angolanos para São Paulo, no ano de 2020 tivemos [o registro de] 2.550 angolanos e angolanas que vieram para São Paulo. Em 2022, logo após a pandemia, chegamos a 5 mil. Nesse ano, [2023] nós chegamos a 3.390. Ou seja, é um número que vem crescendo significativamente a cada ano", disse à Lusa o secretário de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, Carlos Bezerra Júnior.

Os dados mostram que os angolanos totalizaram pelo menos metade dos estrangeiros sem residência fixa a viver em São Paulo no ano passado e que acabaram por recorrer aos abrigos públicos em busca de um lugar para morar.

Questionado sobre as razões que motivam os angolanos a procurarem uma nova vida na maior cidade do Brasil, o secretário disse que a maioria alega fugir de perseguição política, conflitos religiosos, violência, condições económicas adversas ou está à procura de atendimento médico, tendo esta última razão atraído um fluxo migratório importante de angolanas grávidas.

"[Os angolanos] acabam vindo para a cidade en busca de melhores condições, de melhores possibilidades para si mesmos e para o nascimento dos seus filhos", acrescentou o secretário.

A Lusa esteve no Centro de Acolhida (CA) -- Scalabriniana, uma a missão católica que recebe estrangeiros na zona norte de São Paulo em parceria com a Prefeitura, e verificou que em janeiro o local abrigava 137 angolanos entre cerca de 190 acolhidos.

Marcelo Macama Ngoma, de 38 anos, um biomédico que vivia em Luanda, alojado no centro de acolhimento, contou que acabara de aterrar em São Paulo e procurou imediatamente o abrigo onde pretende ficar até conseguir um emprego.

"Sou técnico superior, sou licenciado em biomedicina e vim em busca de melhores condições de vida porque no meu país as coisas não estão boas", disse.

O angolano afirmou que o seu interesse em migrar para o Brasil começou quando conheceu alguns brasileiros em clínicas médicas onde trabalhou em Angola e decidiu mudar-se para o país para fixar residência.

Lumengu Luamuifí, angolana de 41 anos, explicou que deixou o marido em Luanda e viajou para o Brasil com duas filhas com a intenção de trabalhar no comércio, atividade que já exercia, e que também pretende fixar residência no país, embora tenha encontrado dificuldades logo à chegada.

"Eu achava que ia encontrar uma [pessoa] da minha família aqui. [...] Mas a partir de da Angola, uma pessoa falou que ela não estava mais aqui no Brasil, já foi para os Estados Unidos", contou.

Após aterrar e não encontrar quem poderia abrigá-la, a angolana passou a noite no aeroporto com as filhas, onde disse ter sido ajudada por uma mulher que a informou sobre os centros de acolhimento que existem na cidade.

Já Pedro Belarmino Makasa, de 52 anos, explicou que está no Brasil à procura de aperfeiçoamento técnico-profissional e, embora não tenha um prazo determinado de permanência, pretende voltar a Angola.

Makasa relatou que tinha contacto com um amigo angolano que morava em São Paulo que disse que poderia acolhê-lo, mas quando chegou soube que esse amigo havia mudado para o estado de brasileiro de Santa Catarina.

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