A revolta dos camponeses da região da Baixa de Cassanje contra o regime colonial português, a 4 de Janeiro de 1961, na antiga companhia luso-belga da Cotonang, na província de Malanje, assim como o início da luta armada, a 4 de Fevereiro do mesmo ano, impulsionaram a conquista da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975, afirmou, quarta-feira, o director nacional de Preservação do Legado Histórico Militar do Ministério da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria, brigadeiro Francisco Hebo Zangui Longa “filho do Altíssimo”.
Em declarações a imprensa o director nacional de Preservação do Legado Histórico Militar referiu que o 4 de Janeiro de 1961 foi a primeira rebelião contra o regime colonial português, iniciada pelos trabalhadores rurais da Companhia Geral de Algodão de Angola (COTONANG), uma empresa angolana produtora de algodão, com participação belga.
O que determinou a revolta, frisou, foi a obrigatoriedade imposta pelo regime colonial da produção da cultura do algodão no território da Baixa de Cassanje, no antigo Reino Imbangala de Cassanje."Tratava-se da cultura obrigatória do algodão,
numa comunidade de camponeses que, até então, vivia da produção agrícola",
explicou o responsável do Ministério da Defesa Nacional e Veteranos da Pátria.
"Os trabalhadores da Baixa de Cassanje eram
cidadãos considerados indígenas e que, além de entregarem uma grande parte da
sua colecta de algodão às autoridades coloniais, eram obrigados a pagar um
imposto de captação”, disse.
Crime contra a Humanidade
Francisco Hebo Zangui Longa "filho do Altíssimo”
lembrou que os massacres do 4 de Janeiro de 1961 podem ser considerados um
crime contra a Humanidade.
"O violento massacre perpetrado pelo exército
colonial português contra as populações da região que abrange as províncias de
Malanje e Lunda-Norte, com bombas de Nepalm, matou camponeses indefesos que
reivindicavam por um preço justo da venda do algodão”, explicou.
Milhares de pessoas, entre crianças,
mulheres e velhos, foram vítimas da repressão do exército
português. Tendo sublinhado que com aquele acto bárbaro, o povo
angolano entendeu que era chegada a hora de partir para acções que visam se
libertar da opressão colonial.
Homenagem condigna
Brigadeiro Zangui Longa destaca bravura
dos camponeses
O brigadeiro do Exército lembrou que para homenagear condignamente a data,
estão agendadas, em todo o país, várias actividades, com destaque para
palestras, actividades políticas, culturais, desportivas, recreativas,
conferências, debates radiofónicos e televisivos, entrevistas, visitas guiadas
a locais históricos, convívios e confraternizações com os antigos combatentes e
veteranos da Pátria e familiares de combatentes tombados ou perecidos.
Francisco Hebo Zangui Longa "filho do Altíssimo”
informou que entre os homenageados destaca-se o nome do nacionalista Rosário
Neto, um dos grandes impulsionadores e organizadores da revolta dos camponeses
da Baixa de Cassanje.
Constam ainda da lista Francisco António Mariano e o
soba Teka Dya Kinda, sem esquecer João Francisco Pedro "Karitete” e Filipe
Ndala, conhecido por soba Kassanje.
O brigadeiro Francisco Hebo Zangui Longa "filho
do Altíssimo” sublinhou que o 4 de Janeiro de 1961 surgiu em homenagem aos
milhares de angolanos massacrados na mesma data, em 1959, em Leopoldville,
actual Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, que a partir
daquele território, realizavam acções políticas contra a ocupação colonial
portuguesa.
"Filho do Altíssimo” considerou ainda que o 4 de
Janeiro de 1961 foi uma acção do nacionalismo angolano, sem cores políticas nem
distinção regional, linguística, religiosa ou racial, mas sim um movimento de
todos aqueles que amam o país, de modo a viver na diversidade.
"O país vive, hoje, momentos singulares de paz
efectiva, depois de longos anos de uma guerra fratricida que terminou sem
vencidos e nem vencedores. As lições amargas decorrentes do fatídico conflito
armado devem manter-nos unidos, em torno de um objectivo comum que se resume no
desenvolvimento sustentável de Cabinda ao Cunene e do Lobito ao Luau”, apelou.
Breve história
A província de Malanje foi, no tempo colonial, a maior
produtora de algodão do país. A Baixa de Cassanje, região que abarca os
municípios de Caombo, Marimba, Kunda-dya-Base, Quela e Massango, notabilizou-se
pela quantidade e qualidade de algodão que colocava no mercado internacional.
Até 1961, a região era habitada por 150 mil pessoas e
os campos de algodão tinham quase 85 mil agricultores e respectivas famílias,
algumas provenientes de outras zonas, obrigados a cultivar e vender o algodão a
comerciantes portugueses.
Segundo historiadores, a revolta da Baixa de Cassanje
começou em Outubro de 1960, quando os camponeses se recusaram a receber
sementes para plantarem em Janeiro.
A 4 de Janeiro tem lugar a Revolta da Baixa de
Cassanje, com a participação de milhares de trabalhadores dos campos de algodão
da companhia luso-belga Cotonang.
As duras condições de trabalho e de vida e a constante
repressão foram os principais factores que deram origem à sublevação. Os
trabalhadores decidiram fazer greve e armaram-se de catanas e canhangulos
(espingardas artesanais). Em resposta, a força aérea portuguesa lançou bombas
incendiárias provocando milhares de mortos.
Memorial na Baixa de Cassanje
Quanto à construção de um Memorial na Baixa de
Cassanje, o director nacional de Preservação do Legado Histórico Militar
avançou que os estudos encontram-se bem avançados e tão logo estejam
disponíveis os orçamentos previstos, erguer-se-á o tão esperado Memorial, em
homenagem aos nacionalistas angolanos tombados a 4 de Janeiro de 1961.
A construção do Memorial, acrescentou, está
salvaguardada no Despacho nº 0718/ 2021, de 13 de Setembro, exarado pelo
ministro da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, que
orienta o levantamento dos locais e sítios de interesse histórico-militar, para
se erguer Monumentos e Memoriais em honra às figuras nacionais ou estrangeiras
que deram o seu melhor em prol da Independência Nacional e no
pós-Independência.
Comemorações
Para este ano, as comemorações dos 63 anos do massacre
perpetrado pelo exército colonial português na Baixa de Cassanje decorrem sob o
lema "Com o espírito do 4 de Janeiro, Antigos Combatentes unidos rumo ao
Desenvolvimento do país”. O acto central decorre, hoje, no município de
Xá-Muteba, província da Lunda-Norte.
.jpg)
0 Comentários